Arshile Gorky - Agonia (1947)
Talvez seja eu que estou a envelhecer demasiado depressa, talvez seja a própria natureza daquilo a que se convencionou chamar civilização ocidental e a sua tendência para a crise e para a regeneração. Talvez seja isso, mas o sentimento de agonia em que se vive não é apenas a expressão estética de um desgosto que se afirma através da náusea, de um enjoo com a transição da crise para a vida gloriosa. Não, hoje em dia agonia não significa náusea, enjoo. Tem antes um significado mais forte, um significado vital. O sentimento de agonia que parece colar-se a tudo - e não apenas no mundo ocidental - remete para a agonia como o período que antecede a morte, tempo marcado pelo enfraquecimento das funções que sustentam a vida. O que há de espantoso neste processo é que ele se desenrola perante os olhos de toda a gente e num tempo onde não faltam especialistas em salvação do mundo. Mesmo assim o podera para inverter o estado de coisas, para inverter o espírito do mundo, é tendencialmente nulo. Aquilo que foram os valores mais elevados tornaram-se risíveis e o corpo físico já entrou, apesar de ainda emitir sinais de vida, em putrefacção. Pelo menos, em muitos lados, o cheiro é nauseabundo.
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