A minha crónica no Jornal Torrejano.
O que tem de interessante a actual situação política é o desafio que
coloca às forças de esquerda. Fundamentalmente, ao BE e ao PCP. Se a actual
maioria servir como tampão aos desmandos da direita não será mau. Mas isso não
chegará. O problema que se coloca – e não é um problema pequeno – é o de dar um
rumo à sociedade portuguesa, um rumo num mundo que não é nem será aquele que,
eventualmente, os militantes desses dois partidos podem pensar ser o melhor.
Portugal e os portugueses precisam de competir numa economia de mercado, de
gerar riqueza, de fomentar o investimento e o emprego. Sem isso, o Estado
social terá um triste destino.
Esta solução governativa deveria começar por pôr ordem no Estado. Por
um lado, acabar com o conluio de décadas entre negócios e Estado. As empresas
que lutem no mercado, mas o Estado não pode continuar a ser o suporte do
capitalismo de compadrio que se desenvolveu no nosso país e é uma das suas principais
chagas. Por outro, a esquerda deve preocupar-se, e muito, com a eficácia e a
eficiência das instituições públicas. O problema das instituições não são as 35
horas da função pública. O problema é o da qualidade do serviço que prestam aos cidadãos e a
transparência que não ostentam, mas deviam ostentar.
Em segundo lugar, a esquerda deve pensar nas pessoas. Os direitos,
liberdades e garantias são fundamentais. Não chegam, contudo. Sem cidadãos
autónomos, com capacidade de iniciativa e persistência na acção, os direitos
acabarão por se esboroar. Quanto mais miserável for um povo, mais frágeis serão
os direitos civis e sociais. A formação das pessoas é essencial, mas uma
formação virada para o mundo em que terão de viver e não para o mundo onde a
esquerda gostaria que elas vivessem.
Aqui a esquerda à esquerda do PS precisa de se reconciliar com a
iniciativa privada e valorizá-la naquilo que ele tem de útil para o todo
social. Se houve alguma coisa que aprendemos com o colapso do mundo comunista
foi que a iniciativa privada é a forma de cooperação social mais eficaz para produzir
riqueza e elevar o nível de vida das pessoas. O destino da esquerda, quer ela
goste ou não, joga-se nestes tabuleiros e não no conjunto de medidas que
permitiram minimizar os estragos da anterior maioria. Resta saber se haverá
talento e capacidade para olhar para lá da ideologia.
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