sexta-feira, 17 de junho de 2016

Desafios

A minha crónica no Jornal Torrejano.

O que tem de interessante a actual situação política é o desafio que coloca às forças de esquerda. Fundamentalmente, ao BE e ao PCP. Se a actual maioria servir como tampão aos desmandos da direita não será mau. Mas isso não chegará. O problema que se coloca – e não é um problema pequeno – é o de dar um rumo à sociedade portuguesa, um rumo num mundo que não é nem será aquele que, eventualmente, os militantes desses dois partidos podem pensar ser o melhor. Portugal e os portugueses precisam de competir numa economia de mercado, de gerar riqueza, de fomentar o investimento e o emprego. Sem isso, o Estado social terá um triste destino.

Esta solução governativa deveria começar por pôr ordem no Estado. Por um lado, acabar com o conluio de décadas entre negócios e Estado. As empresas que lutem no mercado, mas o Estado não pode continuar a ser o suporte do capitalismo de compadrio que se desenvolveu no nosso país e é uma das suas principais chagas. Por outro, a esquerda deve preocupar-se, e muito, com a eficácia e a eficiência das instituições públicas. O problema das instituições não são as 35 horas da função pública. O problema é o da qualidade  do serviço que prestam aos cidadãos e a transparência que não ostentam, mas deviam ostentar.

Em segundo lugar, a esquerda deve pensar nas pessoas. Os direitos, liberdades e garantias são fundamentais. Não chegam, contudo. Sem cidadãos autónomos, com capacidade de iniciativa e persistência na acção, os direitos acabarão por se esboroar. Quanto mais miserável for um povo, mais frágeis serão os direitos civis e sociais. A formação das pessoas é essencial, mas uma formação virada para o mundo em que terão de viver e não para o mundo onde a esquerda gostaria que elas vivessem.

Aqui a esquerda à esquerda do PS precisa de se reconciliar com a iniciativa privada e valorizá-la naquilo que ele tem de útil para o todo social. Se houve alguma coisa que aprendemos com o colapso do mundo comunista foi que a iniciativa privada é a forma de cooperação social mais eficaz para produzir riqueza e elevar o nível de vida das pessoas. O destino da esquerda, quer ela goste ou não, joga-se nestes tabuleiros e não no conjunto de medidas que permitiram minimizar os estragos da anterior maioria. Resta saber se haverá talento e capacidade para olhar para lá da ideologia.

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