Juan Botas - School (1989)
A minha crónica de Maio em A Barca.
O braço-de-ferro entre o governo e os colégios privados que beneficiam
de contratos de associação tem várias nuances, algumas das quais não estão a
ser devidamente equacionadas. É verdade que, do ponto de vista do interesse
público, não se percebe por que motivo, contrariando a Lei de Bases do Sistema
Educativo, deve o Estado financiar escolas privadas quando, na sua zona,
existem escolas públicas. É evidente que aquilo que o anterior governo fez,
abrir esse financiamento a colégios onde existe oferta pública, tinha um claro
objectivo político de desvalorizar as escolas estatais e, paulatinamente,
entregar os dinheiros públicos a entidades privadas, enquanto deixava morrer o
sistema público de ensino.
O principal problema, porém, vem de outro lugar e de uma ideia que
está a ser passada com muita eficácia para a opinião pública. Em situações de
igualdade de custos, as pessoas preferem, para educar os seus filhos, os
colégios privados às escolas públicas. Estão convictas – e pouco importa que
isso corresponda à verdade – que os colégios privados fornecem uma melhor
educação do que a escola pública. Esta ideia vem fazendo o seu caminho há
longos anos, tem um lobby poderoso e
persistente por trás, muitos políticos e comentadores comprometidos com ela.
Mesmo que não corresponda à verdade (e não corresponde), mesmo que o governo
ganhe este conflito, a escola pública perdeu nestas últimas semanas. Quem
observa a política, compreende que, num futuro retorno da direita ao poder, a
escola pública será trucidada. Ficará apenas para aqueles que os colégios
privados rejeitarem.
Temo que a esquerda preocupada com os contratos de associação não
perceba o que está em jogo. E o que está em jogo é a defesa da qualidade na
escola pública. Isso não se faz pondo fim a exames, inventando tutorias, e
aumentando, mais uma vez, os controlos burocráticos da escola, que é o que está
prestes a acontecer. É preciso olhar para a realidade e para aquilo que está a
degradar a imagem da escola pública. Não basta a retórica da escola inclusiva.
Que fazer com os alunos que sistematicamente boicotam as actividades lectivas e
que a escola pública não pode pôr fora? Como resolver esse problema? Como
dinamizar novas práticas lectivas e formas de aprendizagem, se tudo está pensado
– desde o controlo central das escolas até à complacência na formação e
recrutamento de professores, passando pelas salas de aula e organização das
escolas – para se ensinar como no seculo XIX? Defender a escola pública passa,
em primeiro lugar, por responder a estas perguntas desagradáveis. Espero o
pior.
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