terça-feira, 28 de junho de 2016

E se lessem os trágicos gregos?

William-Adolphe Bouguereau - The Remorse of Orestes (1862)

O estilo é o próprio homem, dizia o conde de Buffon. E há estilos que são particularmente irritantes. Por exemplo, o de Catarina Martins, a coordenadora - seja lá isso o que for - do Bloco de Esquerda. Eu compreendo que as ameaças recorrentes, por parte de responsáveis europeus, de sanções a Portugal e Espanha, devido ao não cumprimento da meta do défice dos anos transactos, são obscenas, até pelo seu paternalismo. No entanto, é preciso ter a medida das coisas. E é essa medida que falta ali para os lados do BE. Não apenas Portugal não é a Inglaterra, não apenas Portugal não cumpriu aquilo a que se comprometeu, como o BE é uma pequena congregação. Proclamar urbi et orbi que o BE, em caso de sanções a Portugal, vai pôr um referendo em cima da mesa faz lembrar aqueles cães minúsculos que, perante um canzarrão medonho, desatam num chinfrim tal que parece que vão engolir o monstro ali mesmo. Não apenas é ridículo como não ajuda o país a resolver o problema.

Retorno a um dos meus temas favoritos. Quem está na política deveria ler - melhor, deveria estudar - as tragédias gregas. Ésquilo e Sófocles têm muito a ensinar a quem se dedica à luta pelo poder. Os trágicos gregos sabem mais de política que todos os comentadores e políticos portugueses juntos. Não ultrapassar a sua medida é essencial. Ultrapassar a medida pode nem ter a ver com a bondade das causas. Ultrapassa-se a medida quando se quer acelerar o tempo, quando não se compreende a importância do kairós, isto é, o tempo oportuno para que uma acção ou uma palavra venham à luz. E foi aquilo que Catarina Martins fez. Li que os presentes na convenção do BE apuparam os representantes do Syriza. Péssimo sinal. Significa que não aprenderam nada. Significa que não perceberam que o Syriza foi vítima da mesma desmedida que está a atacar Catarina Martins e o BE. Significa que não perceberam por que motivo as erínias caíram em cima do governo grego. Conselho desinteressado: começar pelo Édipo Rei, continuar com a Antígona, ambos de Sófocles, e permanecer longo tempo na meditação da Oresteia, de Ésquilo. Talvez ainda vão a tempo de evitar uma visita das benevolentes.

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