Girls in mini dress (c. 1960) (foto encontrada aqui)
Esta fotografia fala-nos sobre o tempo e a história. Fala-nos sobretudo do motor dessa mesma história. Estamos nos anos sessenta. Observemos o drama que ali se desenrola. Espiemos, descarados, a disposição dos agentes daquele drama. As duas raparigas de minissaia dirigem-se para nós, isto é, dirigem-se para o futuro. Nos seus rostos há a alegria e a confiança de quem possui o tempo. Absorvidas nessa vitória nem dão pela presença do passado, pela presença dos olhares que se dirigem para as suas pernas quase nuas. Quem se dirige para o futuro - um futuro que é seu - vai leve e nem dá pelo peso do passado. Vão envoltas na glória, numa glória que assenta na virtude dos seus corpos e no talento da sua exposição. Desde o Iluminismo que o futuro traz a glória aos que o desejam e, de algum modo, se transferem para ele. As duas raparigas são, naquele pequeno drama quotidiano, a presença gloriosa do futuro no tempo presente.
Esta história tem, porém, outros protagonistas. São aqueles que na fila - será uma fila para um autocarro? - estão voltados em sentido contrário. Estão voltados para o passado. De certa maneira, pertencem a esse passado. Pertencem a um tempo mais sóbrio, mais pesado, mais frugal, certamente, mas menos radiante e glorioso. Trazem com eles, mesmo o rapaz de calções, o peso de um tempo que acabou, embora ainda não se saiba. À glória radiosa das raparigas corresponde o ar taciturno de quem desconfia sempre das novidades. Mais do que censura moral há, naqueles rostos, perplexidade, uma perplexidade taciturna e, nas mulheres, um certo toque de ressentimento. Quando estamos presos pelo passado, a perplexidade e o ressentimento com a novidade são a compensação disponível. É assim na tragédia da história da humanidade, é assim nos dramas do quotidiano.
A tensão entre futuro e passado encontra na fotografia a sua resolução. Está bem expressa nela a vitória inelutável do futuro. A chave reside no homem que, estando na fila do passado, se volta ostensivamente para as raparigas e deixa o rosto abrir-se num grande sorriso. O desejo descativou-o do passado e deu-lhe uma outra orientação. O seu caminho é seguir na rota aberta por elas. Aqui, revela-se o motor da história, aquilo que a faz ser um monte de escombros e de novidades feéricas: o desejo. O desejo acordado pelas minissaias transporta o homem, e com ele a humanidade, para um outro mundo muito diferente daquele que está perfilado perante a passagem, quase levitante, das duas jovens. Desejar um corpo é sempre desejar um futuro, pois deseja-se aquilo que não se possui, aquilo que obriga a agir no tempo para ser consumado. Aquelas duas raparigas - ou serão encarnações do anjo da história de Paul Klee? - arrastam, naquele instante, o pesado mundo, preso nas suas curtas minissaias, para o futuro. A vida é o que é.
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