Thomas Cole - Expulsão. Lua e luz de fogo (1828)
Caminhavam os caminhantes
sem estandarte, olhos, quase puros quase frios, sujeitos ao poente, ao sol que
se esconde além da terra, se oculta na fria floresta percutida pelo
esquecimento. Assim iam aqueles que iam, arrastando a memória, tão dolorosa e
tão ímpia, entre mãos, perdidos do caminho, esquecidos de Deus, destituídos de
nome. Respiravam, na desmemória que sobre eles caíra, o vapor dos campos, o
óleo derramado pelo chão, o alcatrão, sempre tão negro, o cobre. Se cantavam
canções de erva à luz do silêncio, ninguém os escutava. A voz então assombrava-se
e a boca, presa na fragilidade das horas, não mais se abria.
Mudos, marchavam na noite,
ouviam o eco das aves a ribombar ao longe e irrompiam na alvorada exaustos, a desenhar mapas, a traçar constelações, a
descobrir entre dedos lagos de sombra e praias, as frias praias de cascalho. Esperavam-nos
a aurora, aquela que um dia teve róseos dedos, e a imensa fome que a noite,
tecida na penúria e sempre tão avara, nunca consola. O nome, de que foram despojados,
tinham-no esquecido, e só por sinais e gestos de si sabiam. Olhavam, agora, o
dia, os olhos teciam nuvens e cerravam-nos na escuridão que caíra sobre a alma.
Gelados, se chegava a noite,
acampavam pelas planícies e olhavam os céus, criando uma geometria frágil, sem
círculos nem rectas, apenas alguns pontos e em sua órbita a fugaz luz, mortal e
extraviada, de um cometa. Quando o grande pássaro do Oriente pousou sobre a
rocha, a terra tremeu. Então, movidos pelo temor, levantaram-se, subiram as
escarpas rugosas, atearam um fogo errante e seguiram-no. O lume aquecia-os,
iluminava-os, deixava-os ver as colmeias
semeadas entre as urzes e, lentamente, restituía-lhes a voz. Do fogo, tão
errante, fizeram um estandarte e marcharam para o nenhures que, como uma cidade
hospitaleira, os esperava.
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