segunda-feira, 4 de julho de 2016

Uma deriva fundamentalista

Jean Cousin the Elder - The Rape of Europa (1550)

Aquilo que se passa na Europa já pouco tem a ver com política. Entrou-se no domínio da religião. A notícia de que Portugal e Espanha terão mais três semanas para corrigir o défice do ano passado (ver aqui) tem muita coisa preocupante. A divisão entre falcões e pombas, por exemplo, mostra já um edifício em ruínas, embora ainda apertado pelas mãos dos falcões. Mas o mais grave, aquilo que mostra o delírio em que se entrou é a metafórica usada por fonte Europeia: "Temos de punir os pecados do passado, mas com o olho numa futura redenção".

Pecados e redenção? É nisto que se transformou a União Europeia. O uso destas metáforas é aquilo que se pode chamar um acto falhado. E como todo o acto falhado é uma confissão daquilo que vai no coração dos dirigentes europeus. O problema não é de racionalidade política. O problema é, estritamente, religioso. Há que punir os valdevinos que se portaram mal, mas, alardeando o mais insuportável dos paternalismos, acrescenta-se o desígnio da redenção. Tal como um pai castiga o filho para este se tornar um homem de bem. O fundamentalismo protestante tomou conta da política e diluiu-a num cocktail religioso explosivo. Deixou de haver parceiros políticos que buscam as melhores soluções. A Europa agora é constituída por puros e pecadores. Pela mão do protestantismo, a política foi tomada pela velha heresia maniqueísta. Nem sequer há lugar para filhos pródigos.

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