Pierre Rousseau - War or The Horseman of Discord (1895)
Mourinho equivoca-se. Anda há tanto tempo no mundo do futebol e ainda
diz coisas como estas: “Sinto
que tenho algo a provar a mim próprio, não aos outros”. A verdade é
exactamente ao contrário. A ele próprio, Mourinho não tem nada a provar. Aos
outros, porém, tem tudo a provar. Quem lhe paga o ordenado são os outros e é a
eles que ele tem de provar que merece o que ganha. O futebol inscreve-se, como indústria de entretenimento, de forma plena nas sociedades modernas assentes na economia de mercado. O estatuto que se
possui – e o estatuto não tem a ver com a minha relação comigo mas com os outros
– está constantemente ameaçado pela concorrência e pelos resultados que se
obtêm.
É provável que isto sempre tivesse acontecido nas sociedades humanas, embora
certo tipo de estatutos fossem nas sociedades tradicionais, pela força do
costume e da lei, preservados enquanto privilégios. Nas sociedades modernas, o
estatuto é muito mais volátil. Para manter um alto estatuto social há que lutar
continuamente pelo reconhecimento dos outros. Sem esse reconhecimento, o
estatuto cai em três tempos. Não seja vitorioso no Manchester United, e Mourinho
logo perceberá aquilo que tem a provar aos outros. Sem reconhecimento do outro
não há estatuto, e este só se mantém elevado se se fundar em vitórias, seja no
futebol ou noutro lado qualquer. O reconhecimento, fundado na luta contínua por
ele, é o eixo central das sociedades liberais, das quais o futebol é o mais poderoso símbolo.
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