Giorgio de Chirico - The Child's Brain (1914)
(…) Um grupo
de investigadores de Londres, liderados por Geraint Rees – e incluindo o actor
Colin Firth – explorou a relação entre as ideologias políticas e o volume
estrutural do cérebro. Isto é, exploraram a possibilidade de o cérebro dos liberais
[esquerda] e dos conservadores [direita] diferir na sua estrutura física. (…) A
equipa de investigadores observou que as imagens dos cérebros dos liberais
mostravam mais massa cinzenta no córtex cingulado anterior, a região do cérebro
conhecida por estar envolvida na detecção e resolução de conflitos cognitivos.
As imagens dos cérebros dos conservadores mostravam mais massa cinzenta na
amígdala, que está envolvida no processamento de emoções, incluindo medo e
recompensa. (…) Pode ser que as diferenças na estrutura e na actividade do
cérebro contribuam para a emergência de diferenças ideológicas – ou que a adopção
de determinadas perspectivas ideológicas condiciona a estrutura e as funções do cérebro
ao longo do tempo. [John T. Jost (2016), “O cérebro e as ideologias”, in XXI (Revista da Fundação Francisco Manuel
dos Santos), n.º 7, Jun-Dez 2016, p. 78]
A relação entre a estrutura do cérebro e a ideologia política, ao
descobrir-se a existência de correlação entre a estrutura cerebral e a
ideologia política, permite fazer uma interrogação muito mais essencial do que
aquelas que se levantam nos estudos que, de forma sistemática, mostram que –
estatisticamente, note-se – as pessoas de esquerda são mais inteligentes do que
as de direita. Devido ao alto valor que, nas nossas sociedades, se atribui à
inteligência lógico-abstracta, este tipo de estudos gera sempre indignação nas
pessoas de direita, indignação que as levam a menosprezar esses estudos, como
se eles lhe trouxessem notícias que não são capazes de suportar.
O estudo citado por John T. Jost – Professor de Psiciologia e Política
na Universidade de Nova Iorque e Presidente da Sociedade Internacional de
Psicologia Política – diz-nos que as pessoas de esquerda têm mais desenvolvida
a área cerebral ligada à detecção e resolução de conflitos cognitivos (serão
mais inteligentes se utilizarmos a linguagem comum), enquanto as pessoas de
direita apresentam um maior desenvolvimento na área ligada às emoções. O
interessante nisto tudo é a espécie humana ter evoluído desta forma. Parece que
do ponto de vista individual, não é grave, para a sobrevivência do indivíduo,
ter uma estrutura mais desenvolvida ao nível da razão ou ao nível da emoção.
Mas se olharmos para o desenvolvimento das sociedades democráticas, onde, com
flutuações sempre pontuais, há um certo equilíbrio de forças entre esquerda e
direita, percebemos que aquilo que é válido para o indivíduo pode não o ser
para a sociedade.
Estas parecem precisar da tensão entre a inteligência racional e o domínio
das emoções. Aquilo que aos olhos do cidadão comum parece ser uma luta
dilacerante pelo poder surge, desde modo, como um ardil da própria natureza com
vista a adaptação da espécie humana à realidade envolvente. Os indivíduos estão
convencidos que seguem as suas próprias inclinações e perseguem aquilo que, aos
seus olhos, é o bem para a comunidade. Ao olharmos para estudos como aquele que
o professor Jost cita, descobrimos uma outra coisa. Descobrimos a necessidade
da tensão entre direita e esquerda, entre o domínio da razão e o da emoção. O
corolário político parece óbvio: o importante não é a vitória absoluta de um
dos lados, mas o equilíbrio que resulta da ilusão de cada um dos lados estar do
lado da verdade e do bem. No fundo, voltamos ao velho Aristóteles e à virtude
do meio termo.
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