A minha crónica quinzenal no Jornal Torrejano.
Uma trilogia ou, melhor, uma troika.
Maria Luís Albuquerque, Passos Coelho e Assunção Cristas. A direita portuguesa
perdeu o decoro. A rábula das sanções a Portugal é o exemplo acabado do que é a
política na Europa. A aposta é rebentar com o actual governo. O que terá este
feito de mal para o país ser sancionado? Nada. As sanções dizem respeito ao não
cumprimento do défice por parte da governação de Passos Coelho. Como é que as
direitas, portuguesa e europeia, estão a montar o cenário? As sanções não
seriam tanto devido à incompetência do anterior governo e da União Europeia,
mas à suspeita de que o actual governo não é virtuoso e, eventualmente, não
cumprirá as metas do défice no final deste ano. Penaliza-se preventivamente. O
que significa isto?
Significa que voltámos à época do Terror da Revolução Francesa.
Robespierre e os seus amigos tinham como princípio político a virtude
republicana. A mais leve suspeita de falta de virtude conduzia a pessoa para o
cadafalso, onde perdia, literalmente, a cabeça. Esta imagem hiperbólica tem a vantagem
de mostrar a natureza daquilo que se está a passar. Qualquer dissidência – e a
democracia não é o lugar onde a dissidência é fundamental? – é punida sem apelo nem agravo. O senhor
Schäuble não gosta do actual governo e parece apostado a fazer tudo o que
estiver ao seu alcance para que ele caia. Ora aquilo que seria expectável da
direita, ainda por cima foi ela que não cumpriu o défice, é que se demarcasse
clara e distintamente, em nome do interesse nacional e da democracia, de
qualquer sanção, baseada em que motivo fosse. Mas não. Ela parece deliciada com
a situação.
E o interesse nacional? Esse, para a direita, resume-se a usar a
bandeira na lapela. De resto, sonha em voltar rapidamente para o poder, para
assegurar que o empobrecimento dos portugueses e a destruição de Portugal seja
consumada. É preciso recordar os factos. O governo anterior, PSD-CDS, não
cumpriu uma única vez a meta do défice, destruiu a classe média, empobreceu os
portugueses e deixou o país à beira do colapso. Não acertou uma previsão.
Enganou-se em tudo o que era essencial. Para ela, tudo isso, pouco conta.
Vivemos num tempo em que os Robespierres, com a sua sanha virtuosa
fundamentalista, ocupam o poder por essa Europa fora. Robespierres que não
hesitam, ainda que simbolicamente, em cortar cabeças. E em Portugal? Por cá, parece
que Miguel de Vasconcelos deixou uma herança genética persistente ou um
conjunto infindável de bons alunos.
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