(foto daqui)
Tinha-me deitado quase às duas da manhã. Acordei por volta das sete. A
primeira coisa que fiz foi consultar os jornais online. O Brexit tinha vencido.
Pensava que a permanência venceria,
embora quando me deitei, tendo em conta as reacções no The Guardian, mas também da cotação da libra, aos resultados de Sunderland
e de Newcastle, tinha a sensação de que a saída
podia ganhar. Posso estar de acordo com Rui
Tavares quando escreve que a emigração e o nacionalismo foram muito mais
decisivos para o resultado do que a preservação da democracia. Posso até estar
de acordo com Francisco
Louçã de que a União Europeia é um projecto falhado. Mas o que me atormenta
mais, enquanto cidadão europeu, é o enorme buraco negro em que se tornou o
futuro.
Julgo que ninguém, com um módico de racionalidade, faz a mínima ideia
do que vai acontecer a seguir. Como vão evoluir os nacionalismos em França, na
Holanda, na Áustria e mesmo na Alemanha e nos países nórdicos. Que consequência
terá este resultado para o próprio Reino Unido e até para as eleições
espanholas? E o impacto em Portugal, numa economia tão frágil e numa sociedade
civil incipiente? Como irão comportar-se, nos próximos tempos, os mercados onde
as dividas soberanas se alimentam? Para dizer a verdade, nem sequer se sabe se
esta saída pode ter consequências positivas. Perante uma situação inédita, o
cálculo das consequências tende para o risível. A razão calculadora, ela que
foi derrotada nas urnas pelos feelings
do eleitorado, mostra nesta hora os seus limites.
Como ao eleitorado britânico, restam-me os feelings. Tenho o sentimento de que o projecto europeu, aquele
ideal da unidade e a solidariedade entre os povos europeus, morreu ontem. Ele
estava doente há muito, o eleitorado britânico, piedosamente, eutanasiou-o. Este
é o sentimento mais forte, quase uma expressão de luto por uma boa ideia que
esbarra nos recifes da realidade, isto é, nas velhas razões históricas. Este é
o sentimento mais forte, repito. Os restantes sentimentos são, devido às trevas em que
estão mergulhados, negros. Não me parece que o mundo que abriu a porta no dia
de hoje seja melhor e mais promissor do que aquele que se encerrou ao fechar
das urnas no Reino Unido. Perante a actual situação não tenho razões
esclarecidas, boas ou más, para falar do futuro. Restam-me feelings, bad feelings.
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