Theodore Robinson - Young Woman Reading (1887)
Olhar um quadro como este de Theodore Robinson é um exercício de melancolia. Esta não nasce por ter deixado de haver leitores. Certamente, hoje em dia, haverá mais gente, muito mais do que há cem anos, a ler livros. A melancolia nasce do desaparecimento daquilo a que se poderia chamar a atmosfera da leitura. Em primeiro lugar, a leitura exige a suspensão do tempo da vida, exige uma predisposição para a inactividade, coisa que choca com os imperativos da vida contemporânea. Devemos estar sempre mobilizados, prontos para o movimento, abertos para a acção. Em qualquer lugar em que se esteja, o mundo da mobilização lembra-nos a imoralidade de sair dele para mergulhar na leitura. Em segundo lugar, os próprios leitores foram perdendo a capacidade de se fechar ao mundo, de mergulhar num universo de símbolos que suportam outros símbolos, os quais constituem desafio e mistério. O leitor não apenas está sempre a ser solicitado pelo mundo como foi educado para desejar essa solicitação, para fugir da vida solitária, para fugir inclusive do confronto consigo mesmo que toda a leitura, se não é puro entretenimento ou mera informação factual, implica. Desenha-se sempre uma secreta, ou nem tanto, má consciência pelo tempo concedido à leitura não utilitária. Quando se olha o quadro, a melancolia nasce da imediata compreensão de que a antiga atmosfera onde leitores e livros se encontravam foi levada pela voracidade da vida. Hoje somos todos, de uma ou de outra forma, leitores à deriva sem atmosfera que permita a lenta respiração que a verdadeira leitura impõe.
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