Jacques Henri Lartigue - Hendaye, France (1932)
A doença europeia reflecte-se muito claramente na evolução das eleições francesas. As sondagens (ver o artigo de Jorge Almeida Fernandes, no Público de hoje) tornam patente o estado patológico. Marine Le Pen (direita radical) e Jean-Luc Mélenchon (esquerda radical) valem mais de 40% das intenções de voto. Isto significa que, apesar da possibilidade real do centrista Emmanuel Macron vir a ganhar as eleições na segunda volta, o centro político se está a desfazer. Os eleitores estão a ficar cansados das manigâncias dos que têm ocupado o poder. Não é apenas o caso dos escândalos que envolvem François Fillon, o candidato da direita tradicional. É também a grande desilusão com o actual presidente socialista François Hollande, o qual foi incapaz de responder aos anseios que tinha despertado nos eleitores e que conduziram à sua eleição.
A doença europeia, que se reflecte no crescimento político de alternativas fora do centro-direita e do centro-esquerda, tem várias motivações. Os problemas trazidos pelo terrorismo islâmico e o conflito cada vez menos surdo entre modos de vida e visões do mundo que atravessa muitos países europeus não são estranhos a essa radicalização do eleitorado. No entanto, o dado principal dever-se-á encontrar na implosão do centro-esquerda europeu que, há muito, abandonou as suas políticas de equilíbrio e de abertura social, para se converter numa espécie de valete, de cariz bem servil, da direita liberal. O caso Hollande é sintomático. O afundamento do centro-esquerda - seja porque mingua eleitoralmente, seja porque executa as políticas da direita - retira ao jogo político e social o factor de equilíbrio que existia. A doença europeia reside na impossibilidade, por manifesta falta de vontade política, de manter os equilíbrios sociais que fizeram da Europa o lugar para viver mais apetecido e invejado. A situação francesa é mais um exemplo dessa doença crónica e, porventura, fatal.
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