Caspar David Friedrich - Easter Mornig (1833)
Há na Páscoa dos cristãos uma orientação que tem nítidas semelhanças com a viragem antropológica operada por Sócrates e Platão, séculos antes, na filosofia. Quando esta emergiu, a sua preocupação centrava-se na compreensão da natureza. O magistério socrático e a reflexão platónica dirigiram o olhar para o homem, para a sua vida na cidade e, inclusive, para a sua vida no além. O que tem esta revolução especulativa a ver com os acontecimentos pascais?
Há, por vezes, uma tendência para olhar para as festividades do cristianismo e compreendê-las como um decalque e, por vezes, mera cópia das festividades pagãs. Contudo, falha-se o essencial. Falha-se a viragem antropológica que estando já desenhada no judaísmo se consumou no cristianismo. Na Páscoa cristã não se vive a ressurreição da natureza, esse acontecimento cíclico que fascinou os homens durante milénio, mas a ressurreição do próprio homem. Não é só a natureza que pela sua renovação anual que triunfa sobre a morte. Também o homem, a quem foi negada a renovação anual, pode triunfar da morte.
Primeiro com Platão e Sócrates e depois com Cristo, o homem dirige o olhar e a razão para si mesmo, interroga-se sobre a sua natureza, a sua conduta e o seu destino. Estes dois momentos da história ocidental são aqueles que possuem, ainda hoje, o maior potencial simbólico e o maior dos perigos. O perigo reside em poderem tornar-se num exercício de auto-contemplação narcísica da espécie humana. Contudo, este perigo extremo é compensado pelo conteúdo simbólica que tem permitido - e continua a permitir - encontrar aí um sentido que, estando para além do narcisismo específico, abra as possibilidades da aventura humana sobre este planeta.
Há, por vezes, uma tendência para olhar para as festividades do cristianismo e compreendê-las como um decalque e, por vezes, mera cópia das festividades pagãs. Contudo, falha-se o essencial. Falha-se a viragem antropológica que estando já desenhada no judaísmo se consumou no cristianismo. Na Páscoa cristã não se vive a ressurreição da natureza, esse acontecimento cíclico que fascinou os homens durante milénio, mas a ressurreição do próprio homem. Não é só a natureza que pela sua renovação anual que triunfa sobre a morte. Também o homem, a quem foi negada a renovação anual, pode triunfar da morte.
Primeiro com Platão e Sócrates e depois com Cristo, o homem dirige o olhar e a razão para si mesmo, interroga-se sobre a sua natureza, a sua conduta e o seu destino. Estes dois momentos da história ocidental são aqueles que possuem, ainda hoje, o maior potencial simbólico e o maior dos perigos. O perigo reside em poderem tornar-se num exercício de auto-contemplação narcísica da espécie humana. Contudo, este perigo extremo é compensado pelo conteúdo simbólica que tem permitido - e continua a permitir - encontrar aí um sentido que, estando para além do narcisismo específico, abra as possibilidades da aventura humana sobre este planeta.
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