Simone de Oliveira é uma presença constante, desde os finais
dos anos cinquenta, no panorama da cultura popular portuguesa. De certa forma,
ela acompanha a evolução da vida social e política portuguesa. Começa a sua
preparação, enquanto cançonetista (era assim que se chamavam os cantores da música ligeira), numa "escola" do regime, o Centro
de Preparação de Artistas da Emissora Nacional. A sua estreia dá-se em 1958. Onze anos depois, vence o Festival RTP com uma canção, Desfolhada Portuguesa, escrita pelo
poeta e letrista comunista José Carlos Ary dos Santos. O delicioso
desta história reside no facto da afirmação, na letra, "quem faz
um filho, fá-lo por gosto" ter gerado uma bela controvérsia, o que
levou a que se considerasse a canção como muito ousada. Nos tempos que correm essa ousadia é impossível de imaginar. Como eram tempos
ingénuos, aqueles. Curioso também é ter passado na censura. Estávamos a começar
a primavera marcelista e havia um certo amaciamento do regime, que
desapareceu rapidamente para que ousadias destas e doutro calibre não desatassem por aí a fazer poucas vergonhas. Portugal era mesmo um triste país. Já agora, note-se a força que emana de
Simone de Oliveira.
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