Nos acontecimentos de Pedrógão Grande revelou-se, da forma mais
cruel, uma das grandes limitações da actual solução governativa. Não me refiro
à inépcia de um ou outro ministro. Aludo a um dos pontos trazidos à colação
pelo relatório da Comissão Independente e que se pode sintetizar na frase
citada pelo Público: A
instabilidade ocasional provocada pelos ciclos políticos atribuem a esta função
[Protecção Civil] desempenhos fortuitos, o que pode gerar (tem gerado), em
alguns casos, situações com graves consequências.
Como todos sabemos, os partidos do arco da governação
entretêm-se, quando trocam a oposição pelo poder, a substituir por gente sua a
gente dos outros. O PS, não sendo o único, tem uma longa tradição neste tipo de
distribuição de empregos pela rapaziada. Ora é incompreensível que o BE e o
PCP, para além das questões económicas, não tenham tido como um dos pontos
centrais do acordo de governo acabar com a situação. Isto não apenas corrói a
vida democrática como pode ter efeitos terríveis, como se está a ver. A vida
política não pode girar apenas em torno de devoluções de rendimentos.
Se os partidos que têm estado fora da governação – PCP e BE –
são impotentes ou não querem, nesta conjuntura propícia, impor um conjunto de
reformas que possam acabar com algumas doenças da vida democrática, tantas
vezes por eles denunciadas, isso significará que o país continuará a assistir,
legislativa após legislativa, a esta troca de lugares, enquanto as instituições
se degradam e as pessoas morrem. O PCP e o BE podem ter, neste momento negro da
vida democrática (sim, a história de Pedrógão Grande é um momento de grande dor da
vida colectiva e uma mancha negríssima e persistente no governo), um papel decisivo em pôr fim a este
tipo de manigâncias, nas quais o PS é um dos grandes especialistas. Os
eleitores ficariam agradecidos.
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