Francisco Iturrino - El paseo. Plaza de Cataluña (1915)
Agora que o problema da Catalunha parece entrar na via da
solução – uma solução transitória, como tudo na vida –, vale a pena tentar
compreender porque gera uma sensação não só de pura irrealidade mas de um tão
grande desconforto. Não se trata de uma questão política, saliente-se. É fácil
compreender o ponto de vista das partes. Trata-se antes da encenação, das
palavras, das manifestações, das acusações, das fugas. Enfim, da estética do
evento, da deplorável estética que dele ressalta.
Num mundo civilizado e esteticamente suportável tudo se
passaria tranquilamente. O governo da Catalunha diria: bem estamos cansados
deste casamento e queremos o divórcio. Não há razões para continuarmos a viver
na mesma casa. Vamos lá fazer as contas. O governo de Madrid consideraria o caso, entre o enfado e a
irritação, e proporia que se consultasse o Rei para fazer terapia de casal. As
partes desavindas, nas sessões, poderiam insultar-se, embora sem levantar a
voz, como se estivessem num filme de Bergman.
A certa altura, o Rei, com cautela e para não interferir na
vontade das partes, sugeriria que pensassem bem na situação. Que tal um exame
de consciência por parte de quem se quer divorciar? E como quem não quer a
coisa, sem gritaria, convocava-se um referendo para, pacata e civilizadamente,
os catalães dizerem o que lhes vai na alma. E chegaria o dia em que diriam: foi
bom, mas acabou-se. Ou, na alternativa mais provável, reconheceriam que a
ligação ainda tem muito para dar.
Tudo isto, porém, sem grande espectáculo, sem palavreado
horrendo, sem a chicane do que se quer ir, sem os ataques de fúria do amante
atraiçoado, e também, no caso provável de quererem continuar casados, sem cenas
românticas na via pública. Num mundo modicamente civilizado, como é suposto a
Espanha ser, nada do que se tem passado se deveria ter passado. Casamentos,
concubinatos, traições e divórcios são coisas que se devem tratar com discrição.
No fundo, ser civilizado é um exercício contínuo de saber manter as aparências
e, acima de tudo, o fair-play.
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