Max Ernst - The Eye of Silence (1943-44)
O mais curioso, quando se escreve sobre política, é a forma
como, muitas vezes, os textos são recebidos. Sinto – o que significa que não é
um conhecimento mas um pressentimento – que são tomados como afirmações
dogmáticas. Quero dizer: exercícios de fé, a partir dos quais se proclama uma
crença. Isto condiciona, por certo, a presumida reacção de alguns leitores. Os
que partilham a fé que julgam ser a minha e os que não partilham a fé que me
atribuem, sendo devotos, assumidos, de outros deuses. Ora se há uma coisa que
marca a minha existência é a falta de fé em tudo o que é humano, demasiado
humano. E não há coisa mais humana do que opiniões políticas, mesmo, ou
principalmente, as que aparentam ser as minhas. Quando uma pessoa precisa de
ter uma grande fé, o melhor, para não incomodar terceiros, é entrar para um
convento. E mesmo que não seja casto nem pobre, deve sempre cumprir o voto de
silêncio.
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