Corrado Giaquinto - El sacrificio de Ifigenia (sec. XVIII)
O caso da demissão de ministra Constança Urbano de Sousa é mais um que nos mostra que entre o trono e o altar sacrificial vai o passo de um anão. Por mais secular que seja uma sociedade, o poder tem sempre uma dimensão sagrada. A unção que o governante recebe do deus - do demos, neste caso - dá-lhe o direito à glória do mando. Este direito, porém, tem um preço, torna o governante uma potencial vítima sacrificial. Se as coisas correm mal, o deus exige sacrifícios expiatórios para reconciliação. Dito numa linguagem mais seca: exige uma vítima emissária ou um bode expiatório.
Uma das características da expiação sacrificial é a possibilidade de substituição da vítima. Na economia da expiação, não é essencial que o principal responsável seja a vítima, mas que haja uma vítima que aplaque os furores do deus desavindo com os homens. Constança Urbano de Sousa, já consagrada pela unção do poder, foi a vítima sacrificial - e toda a vítima sacrificial é sagrada - imolada para tentar salvar o governo de António Costa e aplacar as fúrias. Não esqueçamos que ela foi uma criação política de António Costa, uma espécie de filha. Ao ser imolada, ela é a Ifigénia que permite à armada de António Costa rumar para Tróia. O resto é-nos contado por Homero e por Ésquilo.
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