domingo, 22 de outubro de 2017

Um paternalismo democrático


Portugal tem uma estranha democracia. Essa estranheza só agora se revelou na sua mais autêntica natureza. Vivemos num paternalismo democrático. Foi Marcelo Rebelo de Sousa que o tornou evidente, embora Cavaco Silva também desejasse, sem êxito, conduzir o regime para aí. Este paternalismo nada tem a ver com a relação do Presidente com as populações, nas horas boas e nas más. Tem a ver com a forma como se relaciona com o governo e a oposição. Age não como um político, mas como um pai, umas vezes brando e outras vezes severo. Castiga ora uns ora outros. Dá reprimendas públicas e, por certo, outras privadas. Curiosamente, todos se comportam como filhos respeitosos e obedientes. Este tipo de relação - absolutamente inaceitável numa democracia adulta - revela muito da natureza das nossas elites políticas. Revela, porém, ainda mais de nós enquanto povo. Nós permitimos que aqueles que nos representam não passem de adolescentes retardados, que precisam de um pai que os ponha na ordem e distribua castigos e recompensas.

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