Tom Wesselmann, TV Still Life, 1965 |
Quando alguém lê um romance, vê um filme ou vai ao teatro adopta uma atitude de espírito que Coleridge caracterizou como suspensão da descrença. Lemos ou vemos algo que sabemos ser ficcional, algo que temos a certeza de não ser mais que um produto da imaginação, como se se tratasse de um acontecimento da vida real. As personagens e as situações ganham uma densidade e uma realidade que, de facto, não possuem. Fazemo-lo por que isso nos dá um prazer específico. Fingir que é verdadeiro aquilo que não passa de uma mera invenção.
O facto de a comunicação social, com destaque para as televisões, apresentarem os acontecimentos mais ou menos banais da vida política como ficções tem um efeito contrário ao que foi assinalado por Coleridge para a ficção. As pessoas acabam por suspender a crença na realidade. A realidade política, através da ficcionalização a que é sujeita pela comunicação social, perde a sua densidade ontológica e as pessoas passam a senti-la como uma mera invenção telenovelesca, que não se deve levar a sério. As pessoas sentem prazer, agora, em tratar como mera ficção aquilo que é a pura realidade.
É esta falta de seriedade e esta destruição de realidade com que a política é tratada que vai permitir a eleição do primeiro clown bem-falante que apareça. Para coisas que não são para levar a sério ou que são meras ficções qualquer um – de preferência se for mau – serve. Durante muito tempo a comunicação social foi vista como o quarto poder, um poder de controlo dos outros. Hoje em dia, ela não deixou de ser um poder, mas é agora um poder de destruição das instituições e da própria vida política. Faz parte das instâncias dissolventes da racionalidade política e daquelas que abrem o caminho do poder para a praga de aventureiros e oportunistas que parecem nascer debaixo das pedras.
Há muito que deixei de confundir com informação aquilo que os media debitam.
ResponderEliminarUm abraço
Aquilo é puro lixo.
EliminarAbraço