Este
dueto, Muro do Derrete, interpretado por Filomena Casado e Reginaldo
Duarte, extraído da revista A Bola, foi gravado em 1931. Uma aparente
cançoneta de amor é, na verdade, um exercício ideológico poderoso, traz com ele
uma visão que se pretende ingénua e bucólica das relações amorosas, mas que faz parte de uma estratégia política que visa idealizar o mundo puro da
terra contra a promiscuidade e a perdição dos grandes centros urbanos. Estes,
na verdade, não eram nem grandes nem especialmente urbanos e cosmopolitas.
Contudo, enquanto o regime saído do golpe do 28 de Maio de 1926 se procurava
consolidar e articular politicamente, a frente cultural não era desprezada
pelos novos poderes como forma de legitimação política e de construção de um
ideal nacional, baseado na sublimação do mundo rural e da interioridade. Um universo
de marias e de manéis felizes, honrados e, claro, pobres.
Interpretações perfeitas. A canção e o texto...
ResponderEliminarUm abraço
Muito obrigado.
EliminarA canção é muito engraçada e é pena que a gravação esteja no estado em que está. Do ponto de vista do texto é quase uma proclamação dos valores sociais apadrinhados pelo novo regime.
Abraço