É possível que a maioria esmagadora dos portugueses tenha ouvido o nome de Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis e Eça de Queiroz. São eles o fundamento a partir do qual se foi construindo a literatura de ficção nacional e que teve o seu grande momento de reconhecimento com a atribuição do Nobel a José Saramago. No entanto, a ficção portuguesa não vive apenas dos autores canónicos, um pequeno número que se distingue pela diferenciação das suas obras. Hoje ainda se ouve falar de Ferreira de Castro e Aquilino Ribeiro, Vergílio Ferreira e Agustina Bessa Luís, de Jorge de Sena e José Cardoso Pires. Há, todavia, um número muito significativo de autores de especial competência que começam a desaparecer da memória colectiva.
Rodrigues Miguéis, Augusto Abelaira, Urbano Tavares Rodrigues, Fernando Namora, Fernanda Botelho, Joaquim Paço d’Arcos, Maria Judite de Carvalho, Nuno Bragança, José Régio, Carlos de Oliveira, Rúben A, todos estes escritores ainda são conhecidos, terão leitores, mas a sombra do esquecimento cai já sobre eles. Desde o século XIX que Portugal produziu imensos romancistas, novelistas e contistas. Não serão todos excepcionais, mas a maioria tem obras interessantes e que nos dão a ver aquilo que somos. Merecem ser lidos por vários motivos. Em primeiro lugar, porque será possível encontrar na sua leitura prazer estético e tratamento depurado da língua portuguesa. Serão também um complemento ao conhecimento histórico do que temos sido. A História lida com a factualidade, com os acontecimentos, mas a ficção dá-nos a ver o que desejámos, o que nos fez sofrer e o que nos incitou a enfrentar obstáculos e a viver.
Um estudo recente mostra que os alunos do terceiro ciclo e do ensino secundário lêem cada vez menos. Temo que os jovens adultos e as gerações na casa dos quarenta e cinquenta anos sigam pelo mesmo caminho. O esquecimento dos nossos escritores e a desistência da leitura serão dois fenómenos que andam de mãos dadas e que deveriam merecer a maior das atenções da sociedade civil e dos cidadãos, mais até do que do Estado. É preciso que os cidadãos tomem nas suas mãos a memória da sua literatura. É preciso ler porque isso proporciona prazer e amplia a nossa capacidade de interpretar o mundo. É preciso ler os nossos escritores, os do cânone, mas também os outros, porque ali está a raiz da nossa imaginação, porque ali está um poder para, confrontando-nos com essas visões do mundo, termos capacidade para nos reinventar no presente e nos imaginar um futuro. A literatura também serve para isso.
Ai que prazer. Não cumprir um dever. Ter um livro para ler. E não o fazer! Ler é maçada...
ResponderEliminarJá dizia Fernando Pessoa e as pessoas seguem-no apesar de também não lerem.
Abraço
Seguem-no com devoção, embora não saibam sequer de quem são devotas.
EliminarAbraço