Adriano de Sousa Lopes, Mar e Céu, 1923 |
Tenho uma predisposição inultrapassável tanto para os desprezados
pela história como para os vencidos da vida. Não se trata de uma declaração de
amor à humanidade, mas de uma certa propensão que há em mim em comprar livros
de autores que ninguém lê ou sabe quem são. Há pouco comprei um romance
publicado em 1969, O Homem que Viveu a Noite, de Elvira da Costa Nunes.
Não faço ideia de quem seja. Não foi o título nem tão pouco a idade da obra que
me atraiu, mas o facto de não ter encontrado qualquer informação relevante sobre
a autora, de ela ter passado pela literatura portuguesa sem deixar rasto.
Outras vezes interesso-me por filósofos que, mesmo conhecidos, o tempo derrotou.
Por exemplo, Joseph de Maistre o pensador inimigo da Revolução Francesa. Alturas
há que me ponho a ler obras científicas, nas áreas das humanidades,
completamente ultrapassadas. Em tudo isto deve haver um espírito patológico que
me inclina para a derrota e para os derrotados, para aqueles a quem o tempo
trucidou. O pior é que não se trata de uma inclinação caridosa com os
deserdados da história nem o estabelecimento de uma solidariedade com os
excluídos dos cânones que sustentam a pequena imortalidade dos mortais. Uma
doença, não encontro outra palavra.
Entendo que se trata de uma opção natural e não de uma doença.
ResponderEliminarAbraço
Enfim, talvez as doenças também sejam opções naturais ou da natureza.
EliminarAbraço