terça-feira, 27 de outubro de 2020

Sonhos numa noite de Verão 24

Paulo Catrica, Sala 37, 3.a divisão, Liceu Rodrigues de Freitas, Porto, 1999

Arrastava-me pelo chão entre pilares inexplicavelmente altos. Sentia a rugosidade da madeira a ferir-me a pele. Tinha os olhos abertos, mas não conseguia perceber se era dia ou noite. Vagueei para trás e para a frente, numa paisagem desalmada, de onde a natureza tinha sido expulsa e a marca humana fora ditada pelas potências infernais. Eu, sabia-o bem, era um bebé abandonado. Tudo me parecia descomunal, mas, dentro de mim, uma força resistia à morte. Volteei durante horas naquele labirinto de madeiras e ferros, até que uma luz frouxa me indicou o caminho. Encontrei a porta. Acordei no instante em que saí. Na mesa de cabeceira, alguém colocara uma fotografia minha quando criança e uma outra da sala de aula onde começou o meu exílio. 

4 comentários:

  1. ...subindo a escadaria chegava-se a:
    https://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/primeiro-liceu-feminino-do-porto-comemora-100-anos-4960524.html?id=4960524
    mas não o considerei exílio... :-)

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    1. A ficção tem destas coisas. Raramente, a experiência do narrador coincide com a do autor. Este, que se lembre, nunca sonhou com salas de aula. Aliás, muito raramente se lembra de sonhar.

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