A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Uma das áreas de claro êxito nas governações socialistas de Guterres e
de Sócrates foi a da ciência. Mariano Gago levou a cabo uma importante política
de investimento na formação de cientistas, no desenvolvimento do conhecimento produzido
em Portugal e na relação da universidade com o mundo empresarial. Esta política
parece a estar a ser abandonada pela a actual governação. O defeito das
políticas de Mariano Gago foi terem chegado ao país com meio século de atraso.
O grande drama da economia portuguesa, nomeadamente da indústria, foi
ter-se tornado obsoleta sem que o país possuísse massa crítica e saber-fazer,
cientificamente preparados, para substituir as velhas indústrias por novas. Se
nos anos cinquenta do século passado, Portugal tivesse começado a investir
duramente na educação e na formação de cientistas, hoje a situação seria muito
diferente da que é. O salazarismo preso a uma ideologia ruralista foi incapaz
de perceber que o futuro estava na democratização do acesso ao ensino, no
desenvolvimento da ciência e na ligação desta à economia.
Pelo contrário, o Estado Novo manteve a universidade fechada. Não era
percebida como um pólo de desenvolvimento da comunidade, mas como lugar de
produção e reforço da distinção social. Os recursos humanos e financeiros foram
desviados para outras áreas, nomeadamente a guerra nas colónias, durante a
década de sessenta e setenta, até ao 25 de Abril. Quando, nos anos oitenta e
noventa do século passado, se dá a globalização e a abertura de fronteiras, a
universidade portuguesa ainda está muito longe daquilo que seria necessário.
Por outro lado, a generalidade da indústria, completamente desligada da ciência
e do conhecimento, colapsa, e a que subsiste é incapaz de absorver os quadros
que, entretanto, a universidade foi formando. Mais que a dívida pública ou a
ausência de reformas estruturais, o défice cognitivo das empresas é o principal
problema do país.
As opções políticas de Salazar continuam, ainda hoje, a afectar
duramente a vida da comunidade. Há decisões que só têm efeitos visíveis a longo
prazo. Parece, contudo, que nunca se aprende com os erros do passado. O que de
mais grave pode, neste momento, estar a acontecer a Portugal é a destruição da
herança de Mariano Gago. O desinvestimento na ciência e na sua ligação à
indústria e à economia em geral, o julgar que há licenciados a mais, que se
pode poupar nessa coisa estranha que é produzir conhecimento terá como efeito
manter Portugal numa situação contínua de grandes dificuldades. Há coisas com
que não se pode brincar.
Admito que o meu comentário seja pouco "científico", mas a verdade é que ainda não consegui perceber, quem é o figurante, neste governo, que tem mal baratado a herança de Mariano Gago. Se é que existe?...
ResponderEliminarBom fim-de-semana
Abraço
Pois esse é um dos problemas, nunca sabemos se as políticas são do respectivo ministro ou se pertencem ao Gaspar, ou se este apenas é a voz de quem, ao longe, faz política em Portugal.
EliminarAbraço