Gonzalo Torné - Estructura quebrada (1987)
A austeridade é o único caminho, proclamou, em Bruxelas, o primeiro-ministro. Nos tempos em que um povo é governado por gente inteligente, a virtude política assenta na ideia de que todos os caminhos vão dar a Roma. A inteligência e a maleabilidade sempre se entenderam. Certamente, nos dias que correm, um defeito da inteligência. Quando se proclama que só há um caminho, por norma, está-se a esconder, de forma pouco hábil, a existência de múltiplas vias. A austeridade não é um destino, mas uma opção para aquilo a que Passos Coelho chama "reformas estruturais", isto é, a destruição pura e dura de uma conjunto de instituições que fazem parte da soberania de um povo. A austeridade é a conjuntura que serve de desculpa ao revanchismo político para a destruição do núcleo de direitos populares que sustentam a cidadania da maior parte da população. A esperteza saloia do governo e da troika tem passado até aqui mais ou menos incólume. Resta saber se resistirá ao mês de Fevereiro. Como ontem, em entrevista ao Público, dizia Leonardo Matias, em Fevereiro, o país terá um choque quando olhar para a folha de ordenado. Quando se mexe muito na estrutura das coisas, o mais certo é que a estrutura se quebre e as coisas se afundem no nada.
Quando as coisas se afundarem no nada, que este governo criou, de nada servirá nadar.
ResponderEliminarAbraço
Ou de nada servirá a "natação obrigatória" (acho que era uma canção da Banda do Casaco).
EliminarAbraço