terça-feira, 6 de novembro de 2012

Crepúsculos

Pierre Bonnard - Crepúsculo (1892)


Na ideia de crepúsculo, naquela que resulta da sua aplicação metafórica à vida humana, à sociedade ou a uma instituição, pensa-se a decadência e o declínio. A figuração metafórica (hoje em dia quase uma metáfora morta) da decadência e do declínio pela palavra crepúsculo deve-se ao crepúsculo designar a luminosidade que permanece depois do ocaso do sol, a luz que antecede a noite.

Curioso o termo crepúsculo também designar a luminosidade que precede o alvorecer, o novo dia. Que estranho mistério é este em que o uso metafórico acaba por ser mais pobre do que o uso corrente da língua natural? Quando dizemos "uma sociedade crepuscular" referimo-nos àquela que apresenta francos sinais de decadência e não a uma sociedade que está a começar, composta por um tecido social jovem e desejoso de afirmação.

Nos tempos crepusculares que nos couberam em sorte, seria recomendável manter esta duplicidade que a palavra crepúsculo tem no seu uso corrente. Sim, nós sabemos que a noite se aproxima, que esta luz que ainda brilha é já o prenúncio do fim. Mas também sabemos que quando anoitece um novo dia se aproxima. Talvez o crepúsculo que nos ilumina seja também a anunciação de um outro mundo. Eu sei que, perante as negras forças da destruição que agem impunemente nesta hora, a tentação primeira e natural é defender o velho mundo. Há, porém, que abandonar a reactividade e procurar os elementos que permitirão, no novo dia, uma configuração mais de acordo com o que é humanamente desejável e suportável.

2 comentários:

  1. Sim, é bom que não se perca a ideia da duplicidade do termo e sabemos que depois da tempestade virá sempre a bonança, que a seguir à noite virá o dia, que haverá uma aurora por cada crepúsculo. Pressente-se já que germinam atitudes de mudança e que se vai combatendo este crepúsculo com muitas fogueiras em frente a quase todos os Parlamentos europeus, especialmente nos países em que o crepúsculo se abateu com maior virulência, matando. Porém, essa Aurora está ainda distante, muito distante. Antes da Aurora e seguindo-se a este Crepúsculo virá ainda a Noite.

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    1. Talvez a noite tenha começado há muito. No mito das quatro idades, a Idade do Ferro ou Kali-Yuga, na tradição hindú, há muito que teve início e com ela a noite. Mas mitos são mitos. Seja como for, não nos prometem nada de bom para amanhã. O kali Yuga ou a Idade de Ferro teriam começado há 5 mil anos e a sua duração seria de 432 mil anos. Portanto, nada que nos diga respeito.

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