Diane Arbus - Two ladies at the automat, NY (1966)
Eu percebo que a política esteja ligada a interesses e desencadeie paixões que enviesam - mais que o próprio futebol - a percepção de qualquer um. Pessoas que são objectivas e comprometidas com o exame rigoroso da realidade ou dos seus objectos particulares de investigação soçobram perante o teste da política. Isto vem a propósito do artigo de hoje no Público online da historiadora Maria de Fátima Bonifácio, com o título O que sobrará de Portugal?. Em jogo estão as políticas do governo consideradas inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional (TC). A historiadora não acusa o TC de fazer política. Acusa a Constituição de não deixar o governo governar. E não podendo o governo governar como lhe aprouver - neste caso, tornar a fazer incidir nos pensionistas e nos funcionários públicos o ónus da dívida pública - parece que a única coisa que pode acontecer é uma catástrofe que o título profetiza.
O que está em jogo neste tipo de comentários é aquilo que se oculta. Oculta-se a captura do Estado não pelos salários dos seus funcionários ou pelas pensões que terá de pagar, mas pelos interesses privados que - em cumplicidade com o arco da governação - submeteram o Estado a compromissos que o afogam. Esconde ainda a própria teia de interesses partidários que, com a mão deste governo, coloniza o Estado e contribui para o descalabro financeiro. Há em todo este tipo de comentadores uma visão sacrificial de uma parte da sociedade para que outra - aliás, bem minoritária - continue com as suas rendas, continue a viver - apesar de falar à boca cheia de iniciativa privada e de empreendedorismo - à custa do dinheiro do Estado, isto é, dos contribuintes. Seria justo equacionar os salários da função pública, se todo o resto que onera as contas públicas tivesse igual tratamento. Mas isso é aquilo que estes militantes da saúde das finanças públicas não gostam de falar. Preocupam-se até à exaltação com as gripes, mas acham o cancro uma doença salutar, senão mesmo salvífica.
Gripes versus cancro. Uma expressão duplamente aplicável na prática destes curandeiros que nos dão cabo da saúde.
ResponderEliminarUm abraço
Nem curandeiros são. São antes agentes patogénicos.
EliminarAbraço