A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Vale a pena, a propósito da luta pela liderança dos socialistas,
retomar o diagnóstico da política feito por Nicolau Maquiavel. A política é a
luta pela conquista e manutenção do poder. O resto – servir o povo ou a
comunidade – só se liga ao fenómeno político por acidente. Tem relevo apenas se
contribuir para essa conquista e manutenção do poder. É a partir destas
considerações que deveremos ler o que se passa no PS.
António José Seguro laborou, durante muito tempo, num extraordinário
equívoco. Pensou que o poder lhe cairia nas mãos sem que ele tivesse de lutar
por ele. Bastaria estar sentado no Largo do Rato e de fazer uns discursos
inócuos e sem qualquer compromisso para que, devido ao programa de austeridade,
o poder lhe caísse nos braços. Tinha chegado a sua vez, pensou. Em democracia é
verdade que o poder se conquista também porque o adversário o perde. Mas não
basta que este o perca. É preciso lutar por ele. As eleições europeias
mostraram, porém, que o governo estava longe de ter as legislativas de 2015
perdidas. Pelo contrário, revelaram que a maioria tinha conseguido, apesar do
péssimo resultado, suster os estragos. Seguro equivocou-se. Ninguém está fadado
para o poder. O exercício do poder, algo que pertence à esfera da acção,
conquista-se activamente. Quem quiser dedicar-se à contemplação que entre para
um mosteiro e aguarde a glória dos altares e não a do espaço público.
Uma segunda nota prende-se com o caso de Seguro e Costa falarem pouco,
no conflito que os opõe, das soluções para o país. Há várias razões para isso,
mas a fundamental reside no simples facto de que não é isso o que está em
questão, a não ser de forma acessória. Como em qualquer partido político, sem
excepção, o que está em jogo é a capacidade do seu líder em levar o grupo ao
poder. A disputa no PS não diz respeito a programas, ideias, visões para o país
ou concepções sobre a Europa. A única coisa em jogo é determinar, entre Seguro
e Costa, quem está em melhores condições para ganhar as legislativas. O resto
faz parte dos jogos florais que sempre acompanham este tipo de conflitos.
Antigamente, os inimigos políticos envenenavam-se. Hoje, devido ao Estado de
direito, os inimigos são apenas adversários que trocam galhardetes de forma a
deixar o outro em circunstâncias mais difíceis e menos competitivas.
Não nos equivoquemos. É isto que está em jogo no PS. E isso acontece
não porque os socialistas sejam especialmente depravados, mas porque essa é a
natureza das coisas em qualquer organização política que luta pelo poder.
Algo como a Democracia do calculismo versus a Democracia do oportunismo ou a ambição do poder ao alcance de políticos de módica competência que se preparam para substituir outros muito piores.
ResponderEliminarA encenação muda a tragédia repete-se.
Um abraço
A política é um exercício de cálculo e um jogo de oportunidades. O melhor seria que os cidadão tivessem capacidade de impor uma maior exigência a quem elegem, diminuindo-lhe os cálculos e as oportunidades.
EliminarAbraço