sábado, 7 de junho de 2014

Educação, igualdade e produtividade


Comecei há dias a leitura do livro que mais tem dado que falar nos últimos tempos. Trata-se de Le capital au XXIe siècle (O Capital no século XXI), do economista francês Thomas Piketty. O livro aborda o problema da desigualdade de rendimentos. Assume o pressuposto de que um certo equilíbrio dos rendimentos é, numa sociedade de mercado (o autor não é marxista), um factor positivo, e analisa os mecanismos de produção da divergência de rendimentos. O que me interessa, porém, é outra tese expressa por Piketty. A principal força de convergência dos rendimentos é o processo de difusão de conhecimento e de investimento nas qualificações e na formação, isto é, na educação. Segundo o autor francês, o investimento em educação é, ao mesmo tempo, o que permite o crescimento geral da produtividade (o que nos torna a todos mais ricos) e a redução das desigualdades sociais, tanto no interior de cada país como a nível internacional. Thomas Piketty salienta ainda que estes resultados se devem à difusão e partilha de um bem público por excelência – o saber – e não a um mecanismo de mercado.

Se um país quiser construir uma sociedade próspera e equilibrada, então o caminho parece ser muito claro. Precisa de orientar as políticas seguidas na educação de forma a que todos possam aceder a uma formação adequada, e assegurar a qualidade efectiva das instituições de educação e formação existentes. O que temos assistido, nestes últimos anos, sob a orientação de Passos Coelho e de Nuno Crato? O que se tem assistido é, precisamente, o contrário do necessário. O investimento em educação caiu. Não apenas devido à queda do PIB, mas caiu também em percentagem do PIB afecta à Educação. Já em 2013, a presidente do Conselho Nacional de Educação acusava o governo de estar a colocar Portugal, relativamente ao investimento em Educação, ao nível da Indonésia. Mas, perguntará o leitor, o governo faz isto por ignorância? Não. O governo quer uma sociedade cada vez mais desigual e, concomitantemente, um nível baixo de produtividade. Não se trata de ignorância nem de dificuldades económicas. Trata-se de um claro programa ideológico, cuja finalidade objectiva é criar uma elite económica restrita, e uma imensa camada de população com fracos recursos cognitivos e económicos, disponível para tarefas pouco complexas. Só isto explica o que está a ser feito na Educação em Portugal. Na terrível situação em que nos encontramos, o país deveria estar a fazer o contrário do que faz. Só assim haveria uma luz ao fundo do túnel. Mas não é esse o negócio do governo.

2 comentários:

  1. É evidente que o governo pretende ser selectivo na criação da chamada "igualdade de oportunidades". É assim que melhor serve a clientela que o suporta.
    No entanto, não podemos ignorar que a Irlanda investiu durante anos na educação e depois veio o Capital financeiro e parasitário e foi o que se viu.

    Abraço

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    1. Isso é verdade, o governo quer proteger, através do cheque-ensino, por exemplo, alguns grupos que, devido à crise, se vêem obrigados a colocar os filhos no ensino público.

      Relativamente ao caso irlandês, o problema foi o poder das forças de divergência (esta expressão é mesmo do Piketty e opõe-se a forças de convergência). O autor parece-me que elabora uma reflexão a partir de um par antinómico relativamente ao problema da igualdade: forças de convergência e forças de divergência.

      Abraço

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