A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Comecei há dias a leitura do livro que mais tem dado que falar nos
últimos tempos. Trata-se de Le capital au
XXIe siècle (O Capital no século XXI),
do economista francês Thomas Piketty. O livro aborda o problema da desigualdade
de rendimentos. Assume o pressuposto de que um certo equilíbrio dos rendimentos
é, numa sociedade de mercado (o autor não é marxista), um factor positivo, e
analisa os mecanismos de produção da divergência de rendimentos. O que me
interessa, porém, é outra tese expressa por Piketty. A principal força de
convergência dos rendimentos é o processo de difusão de conhecimento e de
investimento nas qualificações e na formação, isto é, na educação. Segundo o
autor francês, o investimento em educação é, ao mesmo tempo, o que permite o
crescimento geral da produtividade (o que nos torna a todos mais ricos) e a
redução das desigualdades sociais, tanto no interior de cada país como a nível
internacional. Thomas Piketty salienta ainda que estes resultados se devem à
difusão e partilha de um bem público por excelência – o saber – e não a um
mecanismo de mercado.
Se um país quiser construir uma sociedade próspera e equilibrada,
então o caminho parece ser muito claro. Precisa de orientar as políticas
seguidas na educação de forma a que todos possam aceder a uma formação
adequada, e assegurar a qualidade efectiva das instituições de educação e
formação existentes. O que temos assistido, nestes últimos anos, sob a
orientação de Passos Coelho e de Nuno Crato? O que se tem assistido é,
precisamente, o contrário do necessário. O investimento em educação caiu. Não
apenas devido à queda do PIB, mas caiu também em percentagem do PIB afecta à
Educação. Já em 2013, a presidente do Conselho Nacional de Educação acusava o governo
de estar a colocar Portugal, relativamente ao investimento em Educação, ao
nível da Indonésia. Mas, perguntará o leitor, o governo faz isto por ignorância?
Não. O governo quer uma sociedade cada vez mais desigual e, concomitantemente,
um nível baixo de produtividade. Não se trata de ignorância nem de dificuldades
económicas. Trata-se de um claro programa ideológico, cuja finalidade objectiva
é criar uma elite económica restrita, e uma imensa camada de população com
fracos recursos cognitivos e económicos, disponível para tarefas pouco
complexas. Só isto explica o que está a ser feito na Educação em Portugal. Na
terrível situação em que nos encontramos, o país deveria estar a fazer o
contrário do que faz. Só assim haveria uma luz ao fundo do túnel. Mas não é
esse o negócio do governo.
É evidente que o governo pretende ser selectivo na criação da chamada "igualdade de oportunidades". É assim que melhor serve a clientela que o suporta.
ResponderEliminarNo entanto, não podemos ignorar que a Irlanda investiu durante anos na educação e depois veio o Capital financeiro e parasitário e foi o que se viu.
Abraço
Isso é verdade, o governo quer proteger, através do cheque-ensino, por exemplo, alguns grupos que, devido à crise, se vêem obrigados a colocar os filhos no ensino público.
EliminarRelativamente ao caso irlandês, o problema foi o poder das forças de divergência (esta expressão é mesmo do Piketty e opõe-se a forças de convergência). O autor parece-me que elabora uma reflexão a partir de um par antinómico relativamente ao problema da igualdade: forças de convergência e forças de divergência.
Abraço