domingo, 8 de junho de 2014

Impotência à esquerda

Salvador Dali - Alucinación parcial, seis apariciones de Lenin sobre un piano (1931)

A entrevista de Ana Drago ao Público é mais um exemplo da incapacidade que se apoderou da esquerda para compreender a realidade. Por que razão a esquerda parece não estar a ser capaz de capitalizar o descontentamento com a actual situação política? Por dois motivos muito simples. Em primeiro lugar porque há um grande descontentamento no país, mas não se sente desespero. Há casos de desespero individuais, talvez muitos, mas globalmente não se chegou aí. Em segundo lugar porque, tirando a resistência ao capitalismo do PCP e do BE e a colaboração com esse mesmo capitalismo do PS, ninguém consegue compreender qual é o programa político alternativo para governar o país.

As pessoas não querem uma revolução nem sentem que estejam a viver no fascismo. Querem preservar o Estado-Social, mas também querem perceber como se paga a factura. Por outro lado, as pessoas começam a perceber que o Estado não pode substituir-se à iniciativa dos indivíduos, iniciativa singular ou colectiva. Há uma dinâmica liberal que a generalidade das pessoas reconhece como válida, mas que precisa de ter como contrapartida uma forte estrutura de solidariedade comunitária. Será que a esquerda tem respostas para dar às pessoas? Respostas que estas sintam como realizáveis e não mera retórica? Esse é o problema. Não se trata de humildade nem de política de alianças, mas de política pura e dura.

2 comentários:

  1. A solução será a mudança radical do modelo económico, com todas as implicações que essa alteração contempla.
    Não vejo que seja nas urnas actuais que o objectivo possa ser alcançado. Serei ingénuo ao perguntar se a Esquerda quer mesmo chegar ao poder ou quer apenas ir ganhando tempo?

    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Julgo que a Esquerda não quer chegar ao poder. Mas também não vejo modelo económico alternativo. E esse é o problema da esquerda. O modelo económico alternativo morreu e não tem nada para alternar. Bastaria uma regulação deste e mecanismo de solidariedade social fortes e activos. Não seria mau, mas a utopia da revolução deixaria de ter efeito.

      Abraço

      Eliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.