Os portugueses entregaram a governação do país a um grupo de
extremistas e fanáticos, de pessoas que, para além de não possuírem preparação
política suficiente, com uma ou outra excepção, não conhecem o país, e não têm
o sentido dos equilíbrios necessários a uma sociedade com um módico de
racionalidade e de justiça. O ar cordato dos governantes dá a sensação de que
não são extremistas nem fanáticos. Essa aparência tem limitado o juízo crítico
dos portugueses.
Cada vez, porém, que qualquer coisa contraria os desígnios da maioria,
o extremismo político vem ao de cima e uma sensação de ódio fanático parece
deslizar, como uma nódoa, pela superfície depauperada do país. Os ataques ao
Tribunal Constitucional (TC) são sintoma de uma desadequação da maioria
relativamente à Constituição que nos regula e legitima a existência dos governos.
Não bastando as intervenções de Passos Coelho sobre a escolha do juízes, também
uma importante dirigente do PSD veio dizer que o PSD “foi iludido pelo juízes
que nomeou para o Constitucional” (será que estava à espera que eles fizessem
jogo partidário?) e, pasme-se, considera que o TC deve estar sujeito a sanções
jurídicas. Tudo isto é puro fanatismo político.
Recordemos duas coisas essenciais numa democracia. Num regime
democrático, uma vitória eleitoral, mesmo com uma maioria absoluta, não
significa que o governo pode fazer o que quer e lhe apetece. Está, felizmente
para os cidadãos, limitado pela oposição, pela opinião pública e, o mais
importante, pela própria lei, nomeadamente pela Constituição da República.
Governar em democracia não é o exercício de uma ditadura da maioria, mas um
jogo de equilíbrios para aplicar um programa, aplicação essa sempre limitada.
Por outro lado, a existência de uma Constituição e de um Tribunal Constitucional
serve para limitar drasticamente os desejos dos governos, sejam estes quais
forem. Hoje em dia, aquilo que distingue um político moderado de um político
extremista é o respeito pela lei, pela Constituição e pelos órgãos que avaliam
a natureza constitucional ou não das pretensões de cada governo. O governo
aceitou governar com a Constituição e com o TC. Não lhe cabe decidir o que é ou
não constitucional, mas tem o dever estrito de cumprir a Constituição. O que me
preocupa, porém, é outra coisa. Onde quer o governo chegar com os ataques ao TC?
Quer não cumprir a lei? Pretende um estatuto de governo absoluto e acima da
lei? Quer fazer uma revolução para impor a sua vontade partidária? Não será
tudo isto um perigoso delírio de extremistas?
Marcelo R. Sousa classificou, em tempos, a direita portuguesa como a mais estúpida da Europa. Percebemos agora que se tratava de uma definição redutora, já que visava apenas sua competência em termos de estratégia político-eleitoral.
ResponderEliminarHoje entendemos que a nossa (salvo seja) direita, além de ser estúpida, é suja e perigosa e, sobretudo, má no sentido abrangente da expressão.
Um abraço
Uma espécie de talibans do dinheiro.
EliminarAbraço