Wifredo Lam - Auto-retrato (1938)
As selfies são longínquas herdeiras do exercício pictórico do auto-retrato. Longínquas não no tempo, mas na intencionalidade. O auto-retrato está ligado a um cru - por vezes, cruel - processo de auto-conhecimento mediado pela técnica pictórica. A selfie é um divertissement pós-moderno cuja função é a glorificação do pequeno ego do retratado, um ego que se partilha para que, ao tornar-se parte do domínio público, seja confirmado na glória da existência. O auto-retrato na pintura é, muitas vezes, sóbrio e sombrio, enquanto a selfie depende, quase sempre, de uma instantaneidade galhofeira, como se ela fizesse parte de um processo de ocultação daquilo que o ego quer esconder de si mesmo. Não haverá coisa no mundo mais repelente que um auto-retrato de nós mesmos, um auto-retrato que fosse a nossa mais completa revelação. Por mais farisaica que seja a consciência, não há quem possa suportar ver-se tal como é. As selfies fazem parte da cortina com que cobrimos perante nós e os outros o lago tenebroso que se esconde no fundo de cada ser humano.
Daqui a uns tempos começam a aparecer alguns Dorian Gray modernos...deve haver um ou outro por aí...
ResponderEliminarCandidatos não faltarão, os tempos, porém, são outros.
EliminarEu olho para as selfies como estratégias de marketing (com um toque de Photoshop consoante a "exigência") para os mais conscientes e uma "brincadeira" para os mais inconscientes.
EliminarTelemóvel meu, telemóvel meu! Há alguém mais bela do que eu?
;)
Estratégias de marketing. Isso já diz muito. Mas nestas coisas não há nem marketing nem brincadeiras inocentes.
EliminarJamais conseguiria pintar um auto-retrato porque sou um inepto. O mesmo se pode dizer das selfies, dado que assumo a minha incompetência para manejar uma câmara (incluindo o telemóvel).
ResponderEliminarVou recorrendo ao talento de terceiros.
Quanto ao ser ou não ser belo interiormente, eis a questão.
Um abraço
Há, no fundo de cada ser humano, um mar tenebroso. Também é possível que ele traga consigo um céu luminoso. A maior parte das vezes, porém, o homem move-se entre ambos, numa zona de sombra. Julgo, porém, que mais facilmente ele cai no mar do que se eleva aos céus.
EliminarAbraço
Um homem é uma fracção, cujo numerador corresponde ao que ele é, enquanto o denominador é o que acredita ser. JTM
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