Numa entrevista dada, em tempos, ao Público, Christophe de Dejours (psiquiatra e psicanalista,
especialista em psicodinâmica do trabalho) referia o caso de um presidente de
uma empresa que lhe dizia que o que mais odiava no seu trabalho era a avaliação
dos seus subordinados. E acrescentava esse presidente: “a avaliação individual
não ajuda a resolver os problemas da empresa. Pelo contrário, agrava as coisas”.
Isto que para qualquer ser racional que pense sobre os seres humanos parece
óbvio, não o é.
Vale, assim, a pena observar um aspecto. Se se sente que as avaliações
individuais (tratam-se destas e não de processos de avaliação geral da
organização) não contribuem para melhorar o desempenho das organizações,
privadas ou públicas, por que motivo o método é tão propagado? Por que razão se
tornou em prática central do senso comum organizacional? A explicação não é
muito difícil.
Por um lado, porque se montou uma verdadeira indústria da avaliação. Aquilo
a que se chama cultura de avaliação, um eufemismo miserável, não passa de uma
indústria de natureza parasitária, com interesses próprios em diversos níveis
da vida social, desde a academia até às empresas de avaliação e aos centros de
recursos humanos das organizações. É um produto parasitário que encarece os
custos, não fomenta a eficiência, mas alimenta um conjunto de pessoas e
empresas.
Por outro, porque o que está em jogo, a maioria das vezes, não é a
melhoria do desempenho, mas a legitimação da dominação de uns sobre os outros. A
avaliação individual mais do que melhorar as organizações predispõe ao
controlo da consciência e da liberdade dos subordinados, ao controlo da sua
vida. A legitimação é feita, muitas vezes, através de um processo que conduz ao
cálculo de uma nota, o que dá uma aparência – obviamente, falsa – de objectividade.
Trata-se da mobilização de um algoritmo para justificar aquilo que se pretender
fazer com os que são avaliados.
Estas questões ligadas à avaliação nas organizações não são as
essenciais, mas mostram como estas coisas operam na vida quotidiana e
contribuem para a tornar miserável e infernal. São sintoma de uma cultura de
ruína que mina os laços de solidariedade que devem existir entre as pessoas e
acabam por degradar as organizações e ter um impacto muito negativo na vida das
comunidades. Um exemplo acabado do niilismo contemporâneo.
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