Meyer Schapiro - War Allegory (1940)
A minha crónica da semana passada no Jornal Torrejano on-line.
A grande tentação, nestes dias de temor, tremor e terror, é
compreender o que se passa no mundo através de ideias que tiveram a sua
utilidade num tempo que já acabou. A entrada na cena política mundial do
islamismo radical veio pulverizar a teoria, em voga na esquerda e também na
direita, de que todos os conflitos radicam em problemas económicos. Esta
explicação, popularizada por um certo marxismo, sempre sofreu de claras
limitações, as quais agora se mostram impotentes para explicar o motivo pelo
qual há pessoas que matam e se matam para impor um conjunto de crenças
religiosas e uma forma de vida que nos escandaliza.
Como em todos os conflitos, também naquele que vivemos, os factores
económicos são importantes. São decisivos estrategicamente, mas não como causa
final que determina o conflito. São importantes, pois podem ser decisivos para
uma estratégia vitoriosa. Pensar, porém, que os grupos radicais combatem por
causa do petróleo ou da economia é deixar-se enredar nos próprios preconceitos
e recusar-se a olhar para a realidade. Por que motivo se resiste a aceitar que
se está perante um conflito cultural e não económico? Um dos motivos deve-se ao
hábito. Não estamos habituados a interpretar as guerras desse modo. Outro está
ligado à posição política dos pensadores que defenderam que, no século XXI, os
conflitos seriam culturais (o anti-semita polaco Feliks Koneczny) ou choques
civilizacionais (o conservador norte-americano Samuel Huntington). A posição
ideológica destes autores faz com que se rejeitem em bloco as suas teses em vez
de analisar a sua consistência.
A teoria da causa económica dos conflitos não consegue explicar por
que razão o Estado Islâmico toma decisões anti-económicas, como destruir o
legado arqueológico da humanidade. Também não é possível compreender a
motivação económica na atitude dos bombistas-suicidas ou no tratamento das
mulheres pelos combatentes do Daesh. Todos estas actos obedecem a um sistema de
crenças e os seus autores lutam pela imposição dessas crenças. Se olharmos com
atenção para a história da humanidade talvez descubramos que nunca os homens
combateram por questões económicas. Mesmo quando, em aparência, era esse o
motivo, eles combatiam por aquilo que os bens materiais lhes poderiam
proporcionar, isto é, pela representação que eles faziam da vida e do seu
destino. Combatiam por ideias e crenças. Se quisermos perceber o que se está a
passar, temos de compreender o sistema de crenças e de ideias daqueles que
insistem em espalhar o terror pelo mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.