segunda-feira, 30 de maio de 2016

Livre-arbítrio e ordem liberal

Julio Gómez Biedma - Un grito: ilibertad!

Num artigo intitulado The FreeWill Scale, Stephen Cave, ao referir-se ao livre-arbítrio, considera que não estamos inclinados a atribuir uma grande dose de livre-arbítrio a quem vê apenas um possível curso de acção, especialmente em situações em que esse curso não está a resultar. Podemos pensar a situação dos países do Sul da Europa a partir daqui. A retórica dominante na direita europeia é a de que não há alternativa às políticas que são impostas e que resultam dos tratados que instituíram o Euro. A verdade, porém, é que essas políticas estão a falhar por todo o Sul da Europa e quanto mais falham mais se grita que não há alternativa e se impõe mais do mesmo. Este exercício parece longe de confirmar que a espécie humana é possuidora de uma vontade livre.

Quando se acredita que os homens são dotados de livre-arbítrio, acredita-se que eles são capazes de encontrar várias alternativas para poderem escolher a mais adequado ao bem que procuram. Aquilo que dizemos acerca dos indivíduos pode dizer-se das suas comunidades, ainda por cima se elas forem democráticas. Serão tanto mais livres quanto maiores forem as alternativas que consigam produzir para atingir os seus fins e alcançar os bens a que se propõem. O que está a acontecer na Europa, sob os ventos do neoliberalismo e do ordoliberalismo, é paradoxal. São os próprios defensores da ordem liberal que negam o livre-arbítrio e que, sob o desígnio do não há alternativa, impõem uma necessidade férrea em tudo semelhante àquela que vigorava nos países comunistas. Na verdade, o que nós assistimos na Europa é o crescimento, em nome do liberalismo, de uma atitude iliberal, negadora do livre-arbítrio e adepta incondicional de uma visão marcada pela necessidade determinista proveniente do velho mecanicismo nascido no século XVII.

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