Julio Gómez Biedma - Un grito: ilibertad!
Num artigo intitulado The FreeWill Scale, Stephen Cave, ao referir-se ao livre-arbítrio, considera que não estamos inclinados a atribuir uma grande
dose de livre-arbítrio a quem vê apenas um possível curso de acção,
especialmente em situações em que esse curso não está a resultar. Podemos pensar
a situação dos países do Sul da Europa a partir daqui. A retórica dominante na
direita europeia é a de que não há alternativa às políticas que são impostas e que
resultam dos tratados que instituíram o Euro. A verdade, porém, é que essas
políticas estão a falhar por todo o Sul da Europa e quanto mais falham mais se
grita que não há alternativa e se impõe mais do mesmo. Este exercício parece longe de confirmar que a espécie humana é possuidora de uma vontade livre.
Quando se acredita que os homens são dotados de livre-arbítrio,
acredita-se que eles são capazes de encontrar várias alternativas para poderem
escolher a mais adequado ao bem que procuram. Aquilo que dizemos acerca dos
indivíduos pode dizer-se das suas comunidades, ainda por cima se elas forem
democráticas. Serão tanto mais livres quanto maiores forem as alternativas que
consigam produzir para atingir os seus fins e alcançar os bens a que se propõem.
O que está a acontecer na Europa, sob os ventos do neoliberalismo e do
ordoliberalismo, é paradoxal. São os próprios defensores da ordem liberal que
negam o livre-arbítrio e que, sob o desígnio do não há alternativa, impõem uma necessidade férrea em tudo semelhante
àquela que vigorava nos países comunistas. Na verdade, o que nós assistimos na
Europa é o crescimento, em nome do liberalismo, de uma atitude iliberal,
negadora do livre-arbítrio e adepta incondicional de uma visão marcada pela
necessidade determinista proveniente do velho mecanicismo nascido no século
XVII.
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