Alexej Von Jawlensky - Song (1916)
Se ouvirem os gemidos dos
filhos do mundo e nesse sopro uma canção então se erguer, cativem em vossas
mãos, em sorte vos couberam, nuvens de quartzo, e se na hora a mais cálida a
voz de um barítono se levantar por todo o acampamento, peguem nas máquinas e
enterrem bem fundo o nome que vos deram. Dele já não sabereis a cor das
sílabas, nem o sabor de cada letra, a vós vos disseram.
Sangrarão pelo esforço as
falanges e delas se desprenderá pela noite a luz, iluminará de ervas ralas as
bocas, a mão da cerzideira tão bem as trabalhou. Uma saraivada de remos pelas
águas e a aurora virá, e tudo se revestirá de veludo negro; nem as abelhas o
pólen delibarão, presas na ânsia, o cansaço a tece. Deixar-se-ão acorrentar na
suada colmeia, se um Sol de neve declina no horizonte.
Não é tempo de sacrifícios;
há muito os animais partiram, esquecidos do trabalho, os homens como destino
lho deram. Apenas nos semáforos azuis haverá filas de insectos noctívagos,
esperam a ordem, um anjo de cabelo ralo a ordenará. Oblíqua, a canção tomará
por penhor as águas do poço, erguer-se-á sobre os restos calcinados do dia e,
na escura noite, pela fúria hidráulica da roldana, astuciosa a lua renascerá.
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