Edvard Munch - Workers Returning Home (1913-1915)
Trabalhadores obrigados a usar fraldas por não poderem ir à casa de banho. Não acredita? É o que se passa, imaginem, nos EUA, com quem trabalha em aviários (ver aqui). Por que razão os sindicatos e a esquerda são necessários? Não o são para trazerem um mundo novo, mas para enfrentarem a deriva desumana que habita, desde sempre, no coração do capitalismo. A ameaça da esquerda serve para civilizar um capitalismo que, tendencialmente, é propenso ao desrespeito pelos seres humanos. Desde a Revolução Industrial que se manifestou na economia de mercado uma faceta bárbara que substituiu a crueldade da escravatura pela crueldade inerente à consideração da mão-de-obra como uma mera mercadoria, isto é, uma coisa.
Tratar seres humanos como nos aviários norte-americanos ou nas empresas asiáticas infringe não apenas os direitos sociais mais básicos mas a dignidade última de um ser racional. Se a utopia ultraliberal triunfasse completamente, se a esquerda desaparecesse e os sindicatos fossem abolidos, se a desregulação fosse levada até ao fim, aquilo que se passa nos aviários dos EUA multiplicar-se-ia em todas as áreas do trabalho humano. Até as empresas exemplares nas relações de trabalho, e são muitas, seriam coagidas pela concorrência a tornarem-se bárbaras e impiedosas. A necessidade de uma oposição política e sindical a este desejo de retorno à barbárie não deriva, como os nossos candidatos a liberais julgam, da infestação doutrinária do marxismo. O que está em jogo não é Marx mas Kant.
O filósofo de Konigsberg, numa das suas fórmulas do imperativo categórico, definiu claramente aquilo que em qualquer tipo de relação entre seres humanos é inadmissível. Cito: Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio. Usar a humanidade de uma pessoa apenas como meio, como uma mera coisa ou um simples instrumento para lucro do empregador, é o que acontece quando se olha para as pessoas como uma mercadoria e só uma mercadoria, como mão-de-obra. Não se respeita a pessoa como um ser racional que tem valor intrínseco. E isto é moralmente repugnante e inadmissível.
Contrariamente ao que certa a direita radicalizada pelo fascínio do ultra-liberalismo pensa, a esquerda e os sindicatos não existem para trazer um mundo novo ou para destruir o espírito de iniciativa privada. Se um dia o pensaram como contraponto à barbárie da revolução industrial, descobriram já que não há nenhum mundo novo à nossa espera. Esquerda política e sindicatos existem para assegurar que a civilização e o respeito pela dignidade do homem não desaparecerão num mundo desregulado, onde os mais fortes pura e simplesmente liquidariam, para seu interesse, a humanidade nos outros homens. Não é a herança de Marx que a esquerda tem hoje para defender. É a herança de Kant, a herança de um mundo civilizado onde as pessoas são tratadas como seres racionais e não meras coisas. Um mundo onde adultos têm de usar fraldas (e que maior símbolo pode haver do que as fraldas para sinalizar a redução desses adultos à menoridade?), como se fossem crianças, porque as relações de trabalho lhes são completamente adversas. Não se trata de criar um paraíso na terra, mas de encontrar um equilíbrio entre o espírito de iniciativa e uma vida digna de ser vivida por todos.
Tratar seres humanos como nos aviários norte-americanos ou nas empresas asiáticas infringe não apenas os direitos sociais mais básicos mas a dignidade última de um ser racional. Se a utopia ultraliberal triunfasse completamente, se a esquerda desaparecesse e os sindicatos fossem abolidos, se a desregulação fosse levada até ao fim, aquilo que se passa nos aviários dos EUA multiplicar-se-ia em todas as áreas do trabalho humano. Até as empresas exemplares nas relações de trabalho, e são muitas, seriam coagidas pela concorrência a tornarem-se bárbaras e impiedosas. A necessidade de uma oposição política e sindical a este desejo de retorno à barbárie não deriva, como os nossos candidatos a liberais julgam, da infestação doutrinária do marxismo. O que está em jogo não é Marx mas Kant.
O filósofo de Konigsberg, numa das suas fórmulas do imperativo categórico, definiu claramente aquilo que em qualquer tipo de relação entre seres humanos é inadmissível. Cito: Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio. Usar a humanidade de uma pessoa apenas como meio, como uma mera coisa ou um simples instrumento para lucro do empregador, é o que acontece quando se olha para as pessoas como uma mercadoria e só uma mercadoria, como mão-de-obra. Não se respeita a pessoa como um ser racional que tem valor intrínseco. E isto é moralmente repugnante e inadmissível.
Contrariamente ao que certa a direita radicalizada pelo fascínio do ultra-liberalismo pensa, a esquerda e os sindicatos não existem para trazer um mundo novo ou para destruir o espírito de iniciativa privada. Se um dia o pensaram como contraponto à barbárie da revolução industrial, descobriram já que não há nenhum mundo novo à nossa espera. Esquerda política e sindicatos existem para assegurar que a civilização e o respeito pela dignidade do homem não desaparecerão num mundo desregulado, onde os mais fortes pura e simplesmente liquidariam, para seu interesse, a humanidade nos outros homens. Não é a herança de Marx que a esquerda tem hoje para defender. É a herança de Kant, a herança de um mundo civilizado onde as pessoas são tratadas como seres racionais e não meras coisas. Um mundo onde adultos têm de usar fraldas (e que maior símbolo pode haver do que as fraldas para sinalizar a redução desses adultos à menoridade?), como se fossem crianças, porque as relações de trabalho lhes são completamente adversas. Não se trata de criar um paraíso na terra, mas de encontrar um equilíbrio entre o espírito de iniciativa e uma vida digna de ser vivida por todos.
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