Nikolaas Mathijs Eekman - Le philosophe (1973)
Há, quando se olha para a política, um equívoco que vem desde o tempo
de Platão. O equívoco centra-se na ideia de que há uma ligação entre verdade e
boa governação. A figura platónica de Rei-Filósofo não é outra coisa. O
problema é que a política não é um exercício epistemológico e a verdade não é a
virtude dos sistemas políticos. Naquilo que há de essencial na vida política
poucas são as coisas que não estejam sujeitas à controvérsia, aos interesses e às paixões que
estes interesses suscitam. Não há nenhuma solução que seja a realização prática
de uma verdade. As soluções são boas ou más conforme os interesses com que
jogam. Para uns serão boas, para outros serão más. A mais das vezes são
soluções de compromisso, que não agradam a ninguém, mas que amortecem os conflitos.
Isto não quer dizer, porém, que o debate político não melhoraria se
ele fosse fundamentado mais substantivamente no conhecimento das teorias
filosóficas que sustentam os diversos pontos de vista possíveis. Por vezes, as
argumentações usadas pelas partes em confronto são de tal maneira frágeis que
chegam a roçar a indigência. Fundamentar as crenças políticas não significa,
porém, introduzir citações e referências de autoridade a cada instante.
Significa que se tem uma teoria robusta com que se fundamenta a crença política proclamada, e que as tomadas de posição estão de acordo com aquilo que se diz
defender.
Não quero com isto dizer que essa fundamentação torna a opção política
mais verdadeira ou mais próxima da verdade. Quero apenas sublinhar que ela
seria melhor argumentada, mais bem meditada e exigiria do outro lado uma
atitude semelhante. Significaria ainda que os compromissos a que se chegasse
trariam um grau superior de razoabilidade. E isso não seria pouco. O que está
em jogo não é a verdade mas a razoabilidade da acção. Não precisamos de
Reis-Filósofos, governantes com acesso à verdade, mas de políticos razoáveis
que agem e se comprometem no território incerto e conflitual da vida política.
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