Raymond Pettibon - He promised to teach me the language (1993)
Medito muitas vezes, por ónus da profissão que exerço, nas razões que estão na base daquilo a que se convencionou chamar, no calão educacional, o insucesso escolar. O problema é complexo e há razões para todos os gostos. No outro dia li um estudo que parece ser bastante consistente. Defende o referido estudo que a influência dos genes, nos resultados dos alunos, é muito pouca (ver aqui). Que a questão está mais do lado do meio do que do lado dos genes que a lotaria genética atribui a cada um.
O meio implica a linguagem (aqui não vou entrar em distinções entre langue e parole, tomo-as em conjunto) e está aqui um dos problemas fundamentais da aprendizagem. Um bom domínio das linguagens (a natural, mas também cada uma das linguagens disciplinares) é o caminho para uma boa aprendizagem e para obter boas performances cognitivas. O domínio dos léxicos permite operar sobre a realidade e pensá-la. O domínios das diversas sintaxes permite articular os diversos aspectos e dar coerência ao que se pensa e à expressão do pensamento.
Talvez os sistemas de ensino ganhassem muito em olhar para todas as áreas do currículo, e não apenas as línguas, da Matemática à História ou da Física à Filosofia, a partir de uma meditação sobre as suas linguagens, isto é sobre o léxico que usam e as articulações sintácticas que exigem. Esta meditação serviria para confrontar o que cada área de saber, enquanto linguagem específica, exige e a linguagem que os alunos ostentam.
Talvez ensinar, seja o que for, não seja mais do que elevar, o que aprende, da linguagem que é a sua ao território estrangeiro de uma linguagem estranha pertença cada disciplina. Há, parece-me, um paradoxo: a grande facilidade com que os neo-natos aprende a língua natural envolvente e a grande dificuldade com que crianças e adolescentes aprendem as novas linguagens que a escola lhes exige. E este paradoxo deveria dar que pensar. Não dá.
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