Manuel Viola - Batalla nocturna (1975)
A minha crónica em A Barca, de Abril de 2016.
Este mês de Abril traz consigo os quarenta e dois anos da transição
portuguesa à democracia (25/4/74) e quarenta da Constituição (2/4/76), que,
depois de algumas alterações, ainda nos rege. As efemérides, mais do que tempos
comemorativos, são, muitas vezes, épocas de um olhar desconsolado. O desconsolo
nasce não tanto do tempo que passou, mas do olhar voltado para o futuro. Nasce
da percepção partilhada por muitos de estarmos num beco muito estreito e pouco
agradável.
Os tempos que vão de 1974 até à adesão à União Europeia, então CEE,
são marcados por um grande entusiasmo. Primeiro, um entusiasmo com a descoberta
da liberdade e o começo da construção da democracia política. Depois, enquanto
o fervor político ia esfriando veio o alvoroço de pertencermos ao mundo rico e
civilizado. Parecia que havia um rumo para o país e as pessoas encontravam,
nessa mítica Europa, um sentido para o que faziam. As aparências, como acontece
muitas vezes, estão longe da realidade.
As debilidades estruturais nunca deixaram de existir, apesar do muito
dinheiro que, vindo da CEE, jorrou país fora. Também nunca comoveram as elites
governativas de forma a evitar a aventura da nossa entrada na moeda única.
Chegada a crise do subprime de 2008,
nos EUA, e o posterior rebatimento nas crises das dívidas soberanas, as
debilidades tornaram-se gritantes e levaram à intervenção da troika, com tudo aquilo que conhecemos.
Afinal, não somos ricos e talvez nem sejamos lá muito civilizados.
Voltámos a ser um país de emigrantes, pobre, com uma dívida que nos
subjuga, com uma taxa de envelhecimento assustadora. A corrupção cerca-nos, a
justiça impotente, as elites políticas – de ambos os lados do espectro político
– parecem compostas por zombies,
atordoadas pelas exigências dos amigos europeus e pela incapacidade de
encontrar um rumo para o país. Descobrimos, pela primeira vez em muitos
séculos, que estamos sós, embora sem orgulho. Não há colónias, nem a Europa, à
deriva, está disposta a sustentar-nos. Estamos sós, desconsolados, metidos num
beco e não sabemos como sair dele. Terá saída?
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