terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Pobres


“Nunca deixará de haver pobre na terra (Dt. 15:11).” Chegou o tempo de pensar a pobreza não apenas do mero ponto de vista social, mas como uma condição ontológica da humanidade. Poder-se-á sempre dizer que é a perversão social de alguns que torna os outros pobres, mas este “nunca” vetero-testamentário remete muito para além do social e da sua produção. Remete para uma área obscura que exige que se pense. A pobreza antes de ser uma condição social é um mistério que desafia a razão. A caridade cristã, a solidariedade humana ou as políticas socialistas foram respostas a uma condição social, mas não tocam na essência do mistério da pobreza.

3 comentários:

  1. Talvez o mistério resida nas palavras do professor Paulo Borges, publicadas hoje no Facebook:Paulo Borgespublicou
    «A encruzilhada em que se encontra o homem: continuar a reproduzir as motivações herdadas dos primitivos répteis, há 500 milhões de anos, geridas pelo "velho cérebro, o hipotálamo - aquilo a que as neurociências chamam os 4 Fs, feeding, fighting, fleeing e f... (alimentação, luta, fuga e reprodução) - , ou desenvolver as potencialidades geridas fisiologicamente pelo neocórtex, distanciando-se daqueles instintos, reflectindo e abrindo-se altruisticamente ao cuidado de todos os outros seres vivos. É doloroso ver como em tantos sectores da nossa vida pública e privada ainda nos comportamos como há 500 milhões de anos... Luta por sobrevivência, território, estatuto, poder, controlo, ganho, sexo, em função da qual definimos amigos, inimigos e indiferentes. A razão, a ética e a espiritualidade ajudam-nos a diminuir este pequeno atraso.»

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  2. Mas o homem é isso mesmo, a tensão entre o animal e o racional. E nada nos garante que a eliminação das condutas "reptilianas" não nos deixasse à mesma em estado de pobreza. Aliás, os 4 Fs devem-se à nossa condição corporal, e sem ela não há razão ou espírito. Nenhuma espiritualidade até hoje eliminou a pobreza, pois talvez esta seja a condição universal de todos os seres humanos, mesmo dos que se julgam imensamente ricos.

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  3. Continuo a acreditar que existirá , que é possível um paraíso terreal...o mito bíblico diz-nos que fomos expulsos desse paraíso, onde não existia pobreza, pelo contrário, onde nada faltava, por isso era paraíso...Compreender a razão dessa expulsão, para lá do mito, talvez ajudasse ao regresso a esse paraíso. A pobreza não é justa, faz parte da nossa condição porque não conseguimos exorcizar os males que deram origem à expulsão. Vários sistemas políticos e religiosos o tentaram fazer, sem o conseguirem contudo. Esse vislumbre histórico de um paraíso terreal teve lugar ainda há pouco, num lugar chamado Europa, após a Segunda Guerra Mundial. O que mais dói é ter-se acreditado que seria possível. E não foi, ergueram-se forças terríveis que, mais uma vez, vencem o Bem e implantam o Mal.

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