Exigem a veracidade das minhas palavras, mas poderei ser verdadeiro
naquilo que digo? Se tudo o que penso e sinto é habitado por contradições tão
dilacerantes, se tudo toma uma coloração e, de imediato, uma outra tão oposta,
se tudo, nesse pensar e sentir, se move e transforma, para logo retornar ao que
era e, mais uma vez, se negar, como poderá a minha palavra apresentar a
estabilidade que a tornaria digna de crédito? Tivesse Deus ou a natureza dado
ao meu sentir e pensar a imutabilidade, seria ainda possível que as minhas
palavras fossem verazes. Assim, criado para a inconstância e a volubilidade,
toda a verdade que digo é, mal proclamada, a mais acintosa das mentiras, e em
cada mentira oculto a luz da pura verdade. Já era tempo de sabermos que a
verdade e a mentira são assuntos que pertencem aos deuses. Que cruel destino o
de ter de suportar as querelas divinas.
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