Como a minha vizinha da frente (espero que esteja melhor da dor de
cabeça), também eu professo um pessimismo escurecido, com a diferença de ser
uma fé com longos anos. Pessimismo e cepticismo que se iniciaram nos meus dias
de faculdade, apesar de, nesses tempos, estar muito ligado ao idealismo alemão
e ao optimismo subjacente a este, devido às excelentes aulas do Prof. Manuel do Carmo
Ferreira (a quem devo muito do que sei de filosofia). Sempre descortinei,
todavia, uma ameaça latente na racionalidade e no projecto da razão. Hoje que
vivemos a ressaca do pós-iluminismo, parece impossível encontrar um princípio
que oriente a Europa, que lhe dê sentido e lhe permita ter um papel no mundo, a
partir da tradição iniciada pelo cruzamento de Atenas e de Jerusalém. Sim, a
democracia a 27 é uma aposta que merece admiração, mas não basta. É preciso que
as forças do cepticismo e do pessimismo, aquelas que animaram a emergência da
filosofia e da tragédia gregas, façam o seu trabalho de limpeza da ganga que a
História depositou na Europa. Talvez o verdadeiro sentido de ser europeu seja o de
viver em plena krisis, a qual nasce desses
mesmos pessimismo e cepticismo. Ora, nos últimos tempos, não há ano mais
propício à crise, ao cepticismo e ao pessimismo que este que vai entrar. Talvez
seja um ponto de partida para a Europa e para os europeus redescobrirem o seu
lugar e o seu papel no mundo.
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