O retorno é uma palavra com imensa fortuna nos dias
de hoje. Retornar à indústria, retornar às pescas, retornar à
agricultura. O entusiasmo é tanto que há deputados desejosos de
encontrar um novo engenheiro Sousa Veloso e ressuscitar o TV Rural.
Depois de se terem criado condições para destruir as várias áreas
económicas do país, assiste-se, nestes dias de completa impotência
política e económica, ao crescimento de um coro de vozes a exigir o
retorno ao que fizemos no passado. Muitas vezes os regentes do coro são
os mesmos que dirigiram a orquestra, quando ela se desfazia daquilo que
agora nos há-de salvar para sempre, isto é, a indústria, as pescas e a
agricultura.
Esta desfaçatez e esta desvergonha nem se devem a uma maldade
intrínseca das personagens, mas a uma acentuada e rápida perda de
memória e, mais importante ainda, ao facto de ninguém saber o que há-de
fazer com o país, para que ele faça alguma coisa e tenha um futuro à sua
frente. Não há muitos anos, Portugal era inundado pela retórica da
economia do conhecimento, pelo investimento em educação, os quais, por
milagre da santa da Ladeira, nos iriam guiar aos primeiro lugares da inovação económica e da riqueza material.
Todas estas fantasias não resistiram ao primeiro sopro de um
vento agreste e mal disposto. Como um castelo de cartas, a economia
nacional do conhecimento e o investimento em educação desabaram e andam
pelas ruas da amargura. A ideia de retorno à mirífica época da
industrialização, bem como às pescas e à terra, não passa de um
exercício diletante e sem qualquer conteúdo sólido. Não é que não
precisemos de indústrias. Não é que não precisemos de voltar ao mar e à
terra, mas onde estão as condições objectivas que tornem isso possível?
Como é que essa nossa futura indústria vai competir com a
produção asiática? E onde iremos inventar uma frota de pesca para fazer
frente às potências que se instalaram no mar enquanto nós vendíamos os
barcos? Para além do vinho e do azeite (coisas que aprendemos a fazer
bem), que produtos agrícolas os nossos parceiros da UE nos deixarão agriculturar
para satisfazer os nossos arautos do retorno à terra? Mas mais que tudo
isso, onde estão os capitais e os investidores dispostos a levar para
frente tão imaculado projecto?
O mundo mudou, as fronteiras estão abertas e nada indica que vão
ser fechadas. Na verdade, estamos metidos numa alhada e ninguém, mas
ninguém mesmo, faz a mínima ideia como sair dela. Proclamar bem alto a
necessidade de retornar ao que acabou é como querer curar um cancro à
força de tomar aspirinas.
E um dos principais arautos dos "retornos", é um personagem que, durante um consulado de dez anos, como chefe do governo, teve oportunidade de definir um rumo adequado para o país, mas optou por destruir a frota pesqueira, incentivar o abandono da terra, sacrificar o ensino público e promover o novo riquismo egoísta e imoral, que fez escola.
ResponderEliminarHá mais culpados, claro, mas este é um falso moralista que me provoca alergia.
Um abraço daqui, onde tudo é diferente.
De facto, essa personagem provoca alegria, mas os portugueses parece que a adoram. Elegeram-na já cinco vezes. De certa maneira, temos o que merecemos.
EliminarBoa estadia pelo paraíso. Bast não ter figuras destas para se parecer já com um paraíso.
Abraço