quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Da banalidade

Carlo Carra - O meio-dia (1927)

A pintura metafísica provoca no espectador uma sensação de nostalgia e de mistério. Em Chirico, essa sensação é provocada pelo irrealismo onírico dos quadros. O que me surpreende, porém, nos quadros de Carlo Carra é que a produção desse efeito metafísico é obtido por uma pintura que diria realista. Há um excesso de realidade. E esse excesso torna a realidade pesada, opressiva. O excesso, o peso e a opressão nascem porém de uma sensação de abandono a que tudo parece submetido. É o peso do vazio que nos atormenta, não um vazio evidente, mas sugerido, por uma porta, por uma janela, pela ausência de sombra. E esta sensação torna-se totalitária, tomando conta de tudo, como se a mais terrível das opressões nascesse daquilo que é mais banal. Talvez a banalidade seja apenas a presença de uma ameaça metafísica misteriosa, da qual sentimos nostalgia e ao mesmo tempo o maior dos  medos.

4 comentários:

  1. É difícil suportar o peso do mal, quando este se torna banal.

    Abraço

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    1. A Hannah Arendt, referindo-se ao naismo, falava da banalidade do mal. Mas o nazismo não era apenas composto por pessoas banais que praticavam banalmente o mal. O nazismo era uma grandiosa encenação. E esse cenário era já totalitário e opressivo. Mas os quadros de Carra são cenários modestos, ambientes quase quotidianos, e mesmo assim...

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  2. e mesmo assim, o mal revela-se na ausência dos artefactos humanos, para além do casario, nada ali revela a existência de gente, não há cortinas na janelas, roupa pendurada, um cão, ou uma galinha nem um arco de brincar largado no chão ou um sapato, os humanos foram embora, o abandono das pedras é tudo o que resta.

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