A nomeação de Franquelim Alves, antigo administrador
da Sociedade Lusa de Negócios, entidade que tutelava o BPN, para
secretário de Estado do Empreendedorismo (uma secretaria de Estado
consagrada à irrelevância) é um caso sintomático da natureza do poder
político em Portugal. O novo governante, diga-se, não é acusado de nada,
nem sequer é alguém técnica ou moralmente diminuído. O problema não
está nele, mas naqueles que o escolheram e o nomearam.
Como todos sabemos, o caso BPN está a arrastar a vida de milhões de
portugueses para um verdadeiro inferno. Não é a única causa da situação
em que se encontram as finanças públicas, mas é uma causa com elevado
potencial de degradação dessas mesmas finanças. Se fôssemos governados
por pessoas que compreendessem a natureza do poder político em
democracia, não seria possível que uma personalidade ligada a um assunto
tão tóxico quanto o BPN fosse chamada à governação. Não apenas porque
se encontra à partida politicamente diminuído – nunca deixará de ser,
aos olhos da opinião pública, um tipo do BPN – mas por respeito
pelos cidadãos, que se sentirão desconfortáveis ao serem governados por
alguém que administrou aquilo que, sem qualquer proveito próprio, lhes
custa os olhos da cara.
Tudo seria diferente se os governantes compreendessem uma coisa
muito simples: eles são servidores do povo, por quem são pagos e a quem
devem respeito. Esta noção, nos países nórdicos, por exemplo, é levada à
letra. Tanto cidadãos como políticos sabem qual é o lugar de cada um na
escala hierárquica. E esta é muito clara. Os cidadãos estão em cima e
os políticos, enquanto políticos, são meros servidores desses cidadãos.
Estando isso claro, não haverá lugar para truques nem para situações
obscuras, muito menos para situações de claro desrespeito pelo
sofrimento das pessoas.
Em Portugal, todavia, os governantes (não apenas estes,
sublinhe-se) estão acima dos cidadãos, a quem desprezam e enganam sempre
que podem. Durante as campanhas eleitorais, esta gente arrasta-se
boçalmente por ruas e praças, bajula os eleitores, beija as criancinhas
ranhosas e dança com as peixeiras. Eleição obtida, tomam banho e vestem
fato novo, e de bajuladores boçais tornam-se em maiorais impiedosos, que
ocupam o poder para dar largas à sua vontade. O poder em Portugal não é
um lugar de serviço, mas o sítio usado por uns egos, mais ou menos
exaltados, para realizarem a sua vontadezinha despótica, com a esperança
de se concubinarem com a história pátria, essa grande rameira que se deita com qualquer um.
Mais uma crónica plena de oportunidade e de acuidade.
ResponderEliminarCreio que até a grande rameira se irá envergonhar destes parceiros de alcova e de ocasião, que se deitam com ela mas é de nós que "abusam"...
Bom fim-de-semana
Abraço
Abusam, e não é pouco.
EliminarBom fds.
Abraço