Alexandre Séon - O desespero da Quimera (1890)
Grândola Vila Morena, de José Afonso, tornou-se um símbolo de impotência, de uma dupla impotência. As pessoas que a cantam contra a presença dos governantes simbolizam com ela o desespero que as atormenta - que nos atormenta - e também a sua impotência. Simboliza, por outro lado, a impotência dos próprios governantes que perderam o poder e a autoridade para mandar calar as pessoas. Tornaram-se estranhos ao seu próprio povo. A sua acção é entendida como sendo mandatada por um estranho e invisível poder exterior, a sua voz é, cada vez mais, a voz do inimigo. Na verdade, a sua voz é a da impotência, a nossa impotência e a dos próprios governantes. O tempo das quimeras acabou-se, e resta-nos o confronto entre desesperos, o conflito entre impotências. Agora é Grândola, amanhã será outra coisa qualquer. Há que passar o tempo de qualquer maneira enquanto tudo se desagrega e se assiste, impotente, à demolição de um país.
Grândola foi a construção, no podemos permitir que anuncie a demolição.
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Resta saber se há poder para isso. Veremos...
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